Lembranças de Ano Novo

Era um acontecimento marcante, em todo primeiro de janeiro! Todos os parentes, em meio às festas de final de ano, aguardavam ansiosos a chegada deles.

Era minha tia Lourdes, que vinha de Belo Horizonte, com o marido Joãozinho e alguns dos numerosos filhos. Tia Lourdes, com aquele sorriso franco e reticente, quase tristonho, que é a marca da Família Belino. Meu tio Joãozinho, era mais expansivo, muito comunicativo e com uma alegria contagiante.

Visitavam, primeiramente, meu avô, que nesse tempo, vivia ainda na Cachoeirinha, em companhia de Tiduca e Tia Inês, coincidentemente o filho mais velho e a filha mais nova. Em seguida, vinham para a casa dos irmãos, que viviam na cidade de Sete Lagoas. Não havia um roteiro rígido predeterminado. Visitavam Tia Efigênia e Tia Eliezer, onde demoravam algumas horas, passavam pela casa de Piedade e mais algum parente que morasse na cidade, como Tia Das Dores e Tio Odair, por determinado tempo morando por aqui. E, finalmente, desembarcavam lá em casa. Aí sim, era a grande festa!

Durante todo o dia, o trajeto da comitiva ia sendo monitorado. Sempre havia um portador trazendo a informação de onde estavam a cada hora. E essa espera aumentava o nosso entusiasmo.

Quando, finalmente, chegavam a nossa casa, que seria a derradeira, dentro das nossas limitações estava tudo preparado. O café da tarde, que era humilde, mas muito festivo e sempre havia alguns produtos da horta que meu pai preparava, num grande cesto para que eles levassem.

Essa visita era, para todos, muito especial. Como se fosse a própria Estrela de Natal, que viesse trazendo a Boa Nova, remoçando as nossas esperanças de um tempo mais ameno e promissor.

Um gesto simples, mas de enorme significado. No final da visita, todos estavam repletos de uma alegria indescritível. E era num tempo em que a comunicação não era nada fácil. As distâncias nos pareciam muito maiores.

Hoje, em plena era da comunicação instantânea, nesta chuvosa e agradável tarde de Primeiro de Janeiro, relembro todo o encantamento daquela ilustre visita, tão aguardada por todos nós!

Chego a ficar envergonhado, com a secura com que vivemos, agora, essa data. No máximo, uma mensagem pelas redes sociais e mais nada. Mudaram-se os tempos ou mudamos nós?

De qualquer forma, fica a minha gratidão a Tio Joãozinho e Tia Lourdes, que durante tantos anos, trouxeram para nós essa bela mensagem de esperança e solidariedade, iluminando com suas presenças as nossas humildes e longínquas tardes de Ano Novo.

 

Fernando Antônio Belino
Enviado por Fernando Antônio Belino em 01/01/2024
Código do texto: T7966683
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