O que ficou para trás

Tem gente que esquece tudo: onde colocou os óculos, as chaves, os documentos, o guarda-chuva, o casaco e por aí vai. Tem certas coisas que a gente esquece de propósito, geralmente aquilo que nos atrapalha, que nos causa tristeza, que não sabemos como resolver ou como integrar ao nosso cotidiano, tipo um presente inconveniente, ridículo, desproporcional em relação ao ambiente da nossa casa. São muitas as nuances e os desatinos.

Tem coisas que são campeãs no quesito esquecimento. Esquecer um objeto pequeno é mais comum do que esquecer um objeto grande. Um brinco é fácil de deixar para trás: na mesinha de cabeceira, na pia do banheiro, no sofá etc. Dependendo do lugar, chega a ser constrangedor e pode trazer consequências desagradáveis. O guarda-chuva é um dos clássicos no rol dos objetos esquecidos. Se estiver chovendo, é normal nos preocuparmos com ele, mas, se parou de chover, fica nos cantos, atrás das portas, na entrada das lojas, no cinema, na escola, no ônibus, onde mais? Nem sei. Esse é campeão, mas não é o único.

Sentimentos podem ser esquecidos. Tem gente que se esquece de agradecer uma gentileza ou um favor. Tem gente que se esquece de se despedir e tem os que se esquecem de algumas pessoas: nunca mais ligam, não telefonam, não mandam mensagens. E tem quem diga: “não me esqueci de você”, mas nunca mais entrou em contato.

É comum, mais do que imaginamos, esquecer animais de estimação nas ruas, nos terrenos baldios, nas praças. Pobres deles! Esquecer de propósito ou esquecer por esquecimento. Sim, existem as duas modalidades. Esquecer janelas e portas abertas também está no ranking e pode acarretar diversos prejuízos. Se chover, por exemplo, o sofá vai molhar, o chão vai ficar escorregadio, papéis vão voar. Acontece com frequência, não tem jeito.

Muita gente não sabe onde estacionou o carro, enquanto outros esquecem para sempre o veículo nas vias públicas. São chamados de veículos em situação de abandono, verdadeiro flagelo. As pessoas esquecem os seus carros por motivos variados. Uns não têm condições de pagar despesas como combustível, taxas, multas etc., e os abandonam. Realmente, a manutenção de um veículo é dispendiosa. Outros ficam decepcionados com seus carros. Há quem abandone o carro, mas leva a placa, as rodas e os pneus. Esquecimento seletivo?

Mais grave é esquecer pessoas nas ruas, nos cruzamentos, debaixo das marquises, nas quebradas. Esses são os abandonados pelo sistema, consequência da exclusão social, da falta de solidariedade e da ausência de políticas públicas. Muitos os consideram invisíveis. O que não se quer enxergar fica mais fácil esquecer, não é?

Com o início do ano, o que vamos esquecer ou lembrar do ano que passou? O que levaremos pelo resto da vida e o que vai ficar para trás?