2023, ADEUS ANO ÍMPAR!
O “simples” esforço conjugado de alguns liberais de fato com progressistas consequentes evidencia que, sim, a Democracia tem preço, mas sua efetivação é viável, desde que haja quem esteja disposto a arcar com a fatura.
Claudio Chaves
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NÃO me recordo de já ter escrito por aqui algo com um título tão óbvio! É claro que 23 é ímpar. O que há de inédito nisso?! Em sentido literal, sim, 2023 só pode ser ímpar. Mas em sentido metafórico, todo ano, mesmo quando par, não deixa de ser ímpar. Apesar das características naturais (datas fixas, quantidade de dias...) comuns a todos, cada um tem suas particularidades que o torna único na história. A presente reflexão comporta-se nessa segunda acepção.
DESCONTANDO – não porque não sejam relevantes, mas por falta de tempo e propósito mesmo – os interesses e influências internacionais, comparando o ambiente no País no fim de 2023 com o do fim do ano anterior, fica mais do que evidente que o “simples” esforço conjugado de alguns liberais de fato com progressistas consequentes evidencia que, sim, a Democracia tem preço, mas sua efetivação é viável, desde que haja quem esteja disposto a arcar com a fatura. E ao que parece, sim, no Brasil, a despeito de todo o nosso riquíssimo histórico de desprezo por quase tudo que se relaciona com as ideias humanistas suscitadas a partir do chamado Renascimento [na Europa do declínio da Idade Média e ascensão da Modernidade], o tal ambiente sugere exatamente isso: há quem esteja disposto a fazer o pix pra sustentar a “Menina dos olhos” dos liberais humanistas[1].
PRA MIM, o ponto de inflexão que pôs freio ao que se encaminhava para um trágico 7x1 do totalitarismo contra a neófita e sempre cambaleante Democracia brasileira foi o que, numa crítica à demora de tal manifestação, chamei, à época [e ainda não mudei de opinião], de “Carta pela Burguesia”. Refiro-me ao documento chamado de Carta pela Democracia, assinada em 11 de agosto do ano passado por liberais e progressistas [e conservadores sérios] de diversos campos, unindo flancos opostos como patrões e sindicalistas, estudantes de escolas públicas e empresários do Edunegócio, a grande Imprensa burguesa, o poderoso deus Mercado, representações do proletariado e até, quem diria, a majestosa FIESP, uma das principais patrocinadoras do golpe sem armas de fogo, consumado em 2016. A eleição presidencial, na minha singelíssima opinião, foi decidida ali, naquele momento, naquele gesto. A partir dali, o desespero dos amantes do totalitarismo bateu forte, e a consumação da revolta contra o fortalecimento da proposta liberal (a Democracia) culminaria na selvageria consciente e com propósito definido (instaurar o caos social, para forçar a intervenção das Forças Armadas) do 08 de janeiro do corrente.
CHEGAMOS às portas de 2024 com uma nova convocação, também para 08 de janeiro; mas dessa vez, para ratificar e celebrar, não para tomar de assalto a Democracia.
NÃO foi preciso reinventar a roda. Sem, de forma alguma, querer esboçar qualquer menosprezo à importâncias das outras forças envolvidas, bastou que uns poucos – já que é o que temos – liberais de fato, incluindo, é bom que se diga, muitos militares [que sabem que sem a Democracia, por mais falha que seja, seu projeto de dominação fica seriamente comprometido], decidissem se posicionar e se comprometer com a proposta dos iluministas para que o que se encaminhava para um 7x1 se revertesse a pelo menos um, se não satisfatório, esperançoso 0x0 – o jogo recomeça, embora ainda sob permanentes ameaças de goleada, a partir de 09 de janeiro de 2023.
AÇÃO EFICAZ E PEDAGÓGICA
A SOCIEDADE brasileira não superou em 2023 nenhum de seus problemas seculares (analfabetismo, trabalho escravo, falta de saneamento básico, déficit habitacional, narcotráfico, corrupção política, violência contra mulher, racismo, fome, concentração imoral da terra e da riqueza, etc.). Mesmo assim, este é um ano ímpar porque, entre outras coisas, a partir da nova tentativa de democratização do País (1988), jamais a Democracia tinha sofrido um ataque tão violento, e, da mesma forma, a resposta das instituições [incluindo o Estado] que sustentam esse sistema nunca havia sido tão ágil, eficaz e tão pedagogicamente exemplar.
“AH, MAS tem havido excessos por parte do Judiciário!”, muitos acusam – e creio que não estão totalmente errados. Mas na Democracia, tais desvios podem ser criticados e corrigidos; na autocracia – como exigem os decepcionados com, por exemplo, a tripartição de poderes –, tais fatos sequer poderiam ser noticiados. Além do mais, qualquer sistema político e social tem seu preço [e a Democracia não é exceção]; a questão é quem está disposto a pagar.
CONTINUAMOS, repito, com os mesmos problemas de sempre, incluindo a crise econômica, que gera o desemprego. Mas chegamos ao fim do ano sem milhares de pessoas acampadas, por meses, em frente de quartéis, exigindo “intervenção militar para garantir a Democracia e as liberdades constitucionais”. Isso mostra que se, por um lado, os desafios históricos como o desemprego continuam, por outro, pelo menos essas pessoas, ao longo do ano, encontraram o que fazer!
[1] Não é desprezo pela proposta. Apenas para sinalizar que a ideia não é, como seus defensores a tentam vender, natural e muito menos universal.