Junho:
DE REPENTE SEREMOS parte de nossos sapatos preferidos e cardápios que mais amamos. Travesseiros prediletos e fronhas; subindo e descendo ruas do mundo... entrando e saindo de rodoviárias ou aeroportos. Quem liga pra nossa opinião?
… E o solitário sonhará com a visita que nunca veio. O atribulado sonhará com um dia sem satisfações. E todos os humanos, vez ou outra se imaginarão sentados em frente ao mar... Pois, sabe-se lá qual motivo, o mar nos remete ao útero e também ao calvário. Ele lembra o descanso da morte e o gostoso da vida.
Julho:
O rapaz “doido” … olhou em meus olhos e disse: "VOCÊ VAI PRODUZIR MEU LIVRO?!". Aí eu fiz "Hã?!" com uma cara séria que infelizmente precisei aprender a fazer… aí ele: "Eu tô escrevendo o livro sobre a MINHA VIDA!!! VOCÊ É PROFESSOR NUM É?!".
Eu sorri um pouco (será que sorri mesmo? De verdade? Às vezes eu acho que sorri pra pessoa e na verdade continuei sério) e respondi que estava estudando pra ser um… Ele sorriu ternamente, mas ainda com muita perturbação no olhar. E me olhando com o queixo pra cima: "VOCÊ VAI SER!!! E vai vender meu livro e vai ganhar VINTE MILHÃO!!". E então se virou e seguiu viagem… foi embora, sem dizer mais nada.
Agosto:
O rapaz "doido" não escreveu seu livro (não que eu acreditasse que fosse). Ele foi assassinado na noite do meu aniversário. Eu não fiquei triste, ele não era "meu" maluco. Quando pessoas se vão muito cedo na vida, penso que Deus está me dando oportunidades, embora às vezes eu não as reconheça e não as agarre. Ele ainda pensa que meu lugar é aqui.
(H.B)