É possível escrever uma frase usando linguagem neutra?
Uma frase preconceituosa, machista: "O homem comprou um carro."
Vamos convertê-la para uma linguagem que não contenha nenhum ingrediente desprezível, preconceituoso, machista, isto é, vamos escrevê-la em linguagem neutra.
Assim, logo de início substitui-se o artigo "o", que é masculino, por um artigo que, não sendo masculino, e feminino tampouco, seja neutro, isto é, que não aponte para um sujeito nem masculino nem feminino. Neste caso, usamos o artigo... o artigo... "o artigo" é masculino, diabos! Qual artigo?! Não há. Então, neste caso, especificamente neste caso, substitui-se o artigo por um numeral. Qual?! O "um". Mas "um" é masculino; se é masculino, não serve. Então... então... então... Eureka! Suprimamos o artigo da frase; e não ponhamos um numeral no seu lugar. E fica a frase sem um artigo. Pra que artigos, se artigos foram inventados por gente preconceituosa?!
Agora, o substantivo "homem", que é masculino, e, porque masculino, não serve. Então, substituamo-lo por "pessoa". Mas "pessoa" é feminino. Então, fica "ser humano". Mas "ser humano" é masculino. Então, o substantivo, que é o sujeito da frase, "homem", se não tem um substantivo neutro que possa substituí-lo, fica de fora da frase. Pra que substantivos, se os substantivos foram inventados por gente preconceituosa, machista?!
Agora, o verbo "comprar" no pretérito, isto é, "comprou". "Comprou" é neutro; então fica. Estamos indo bem.
Agora, o numeral "um", que é masculino. Não havendo um numeral que, indicando o singular, seja neutro, então... Pra que numeral singular, se numeral singular foi inventado por gente preconceituosa, machista?! Suprimamos o "um".
Agora, o substantivo "carro", que é masculino. Substituamo-lo por "veículo", que é masculino. Por "automóvel", que é masculino. Melhor excluí-lo. Pra que perder tempo, que é precioso?!
Encerramos o nosso heróico trabalho.
Vejam que beleza!
A frase original, constituída de cinco palavras, reduziu-se à uma frase, e frase sem preconceitos, de uma palavra só, "Comprou.", e assim, facilitando a comunicação entre as pessoas, une o útil ao agradável. Não tenho dúvidas: linguagem neutra é coisa de gênio!