ÁLIBI
Procurastes-me, Senhor,
E não me encontrastes, porque
Eu estive à deriva nas lágrimas,
Querendo saber o porquê de tanta tristeza;
Eu estive a bordo no nariz das pessoas,
Querendo saber o porquê de tanta arrogância;
Eu estive ao redor do umbigo dos homens,
Querendo saber o porquê de tanto egoísmo;
Eu estive nos dialetos das raças,
Querendo saber o porquê de tanta incompreensão;
Eu estive nos guetos, nas praças,
Querendo saber o porquê de tanta fome e marginalização;
Eu estive nos surtos,
Querendo saber o porquê de tanta doença no mundo;
Eu estive nos ais, nos desvãos da alma,
Querendo saber o porquê de tanta dor;
Eu estive nas alamedas, nas margens,
Querendo saber o porquê de tanta violência;
Eu estive no clímax, no auge, nas badalações,
Querendo saber alguma coisa, um alento, uma força,
Mas não me contive, não encontrei satisfação;
Eu estive nas vertentes da história,
Querendo saber o porquê das ocorrências, dos fatos
E perdi a direção, o elo, a palavra...
Eu estive no cerne de tudo:
Procurei a sondagem, os elãs,
Só encontrei escuridão!
Eu estive, permaneci, implorei, chorei, chamei...
Eu estive nos túneis, nos caminhos,
No coração de todos os cativos, dos aflitos,
E não tive êxito, malogrei!
Porque esqueci de olhar para dentro de mim
E saber que contribuo para a real certeza
De tudo isto.
Eis-me aqui, Senhor!