A maior crônica do ano de 2023
A maior crônica do ano de 2023 a encontrou sentada às margens da Lagoa do Violão em Torres e o pegou animando festas de Natal como Papai Noel em Charqueadas.
Sentada à sombra, sorridente e feliz, com seu vestido verde e olhando as tartarugas, os pássaros e as pessoas; suando dentro da pesada roupa vermelha - sentiu falta do ar condicionado do shopping onde estivera outro dia -, mas radiante de felicidade recebendo o sorriso das crianças. Estava numa festa da rua Grécia e depois iria para outra, na rua dos Coqueiros. Não viu grego algum na primeira e tampouco coqueiros na segunda e, ele mesmo, representava um mito europeu inadequadamente trajado para o calor do verão natalino brasileiro: nada fechava. Somente a alegria verdadeira dos pseudo greguinhos e heleninhas tinha a ver como o lugar e o clima. Mais pais, mães e avós do que crianças. Brinquedos de inflar, triciclos e coisa e tal - ele. Pipoca, refri, cachorro-quente e os presentes de Natal, que festa.
Chegou na Coqueiros e o mundaréu de crianças o envolveu, na expectativa dos presentes. Poucas mães e avós distribuíam os refris e cachorros, ao final da rua onde ficava um cemitério velho e, parece, abandonado. Ali, era a atração única e, logo, a principal. Ora, afinal, era o Papai Noel, o bom intruso na festa de Jesus, espalhando amor e carinho pelas diferentes ruas da cidade, no verdadeiro espírito natalino. Tudo a ver, o resto são opiniões sem concretude, tal qual o nome das ruas onde inexistem coqueiros ou gregos.
Ela pensava nos natais pretéritos, quando os pais ainda eram vivos e sua casa uma festa, com ela e os irmãos. A vida anda pra frente, sempre, e ali, agora - na lagoa onde não se viam violões ou músicos -, era um bom local para se estar em paz, viva e com saúde, num mundo com tanta guerra, morte e doença. Tem lugares no mundo que, mesmo não tendo nada a ver, tem tudo a ver. O que importam violões, gregos, papais natais e coqueiros de araque quando o lado bom da vida flui pela alma?
A maior crônica do ano de 2023 flagrou cada um em seu tempo e espaço na realidade histórica e social em que os humanos vivem. "O homem é ele e a sua circunstância", escreveu Ortega Y Gasset.