A Briga pela Sala 215

 

     Entrei na sala 215 daquele bloco da universidade, instalei meu notebook e iniciei a aula. Um tempo depois, uma batida à porta. Fui abrir e dei de cara com um senhor de uns 60 anos, de barba, óculos e guarda-pó branco. Parecia médico. Ele me cumprimentou e respeitosamente disse:

      - Esta é a minha sala.

    Imediatamente respondi que ele devia estar enganado pois eu lecionava na 215 todas as semanas naquele mesmo dia. Ele insistiu e pediu para olhar no corredor. Havia uns vinte estudantes sentados nos bancos do corredor esperando... Insisti que a sala era minha e ele me disse, mais uma vez, que a sala era dele e que lecionava nela todas as noites daquele dia da semana.

     Por fim, os estudantes da minha sala, ouvindo a conversa, me disseram:

     - Professora, é verdade, a sala é dele. A nossa é a 214. Eu, espantada perguntei:

     - Mas como?.

     Eles responderam:

   - A senhora entrou e nós entramos juntos, como temos aula nesta sala daqui dois dias nem notamos que estávamos na sala errada.

   Que vergonha. Estávamos mesmo na sala errada. A 215 era nossa sala em outro dia da semana e em outra disciplina.

     Pedi desculpas e solicitei um tempo para mudarmos para a sala 214. Foi quando ele falou:

     - A sua é a 214? Ah, então tudo bem. Pode ficar aqui por hoje. Nós vamos para sua sala. E, cavalheiríssimo, se despediu e rumou com seu séquito de acadêmicos para a sala 214, ao lado.

     Descobri que é professor de biologia na universidade e agora sempre que nos encontramos - não sei seu nome, mas é fácil identificá-lo, sempre de guarda-pó branco - sorrimos e nos cumprimentamos.

  Aprendi que a gentileza é a coisa mais linda em momentos em que nos encontramos em situações desconfortáveis como essa.

     Ele poderia ter sido grosso e estúpido. E eu também. No entanto, ele preferiu resolver o problema com classe. Acabou fazendo uma amiga e admiradora na universidade.