RESQUÍCIOS NATALINOS

Diariamente, faça sol faça frio, pratico uma caminhada durante uma hora e neste day after natalino não abri exceção. Primeiramente porque, como não tenho motivos para ressaca, afinal, como não participei de nenhuma ceia ou comes e bebes na noite festiva anterior, a minha disposição foi idêntica a dos dias anteriores. Então, ainda ouvindo o pipocar de alguns rojões ao longe, durante o meu percurso não foi difícil perceber aqui e ali pequenos grupos cambaleantes ou com voz pastosa queimando as últimas energias nestes resquícios natalinos, parecendo até que disputavam quem aguentaria mais tempo acordado bebendo ou jogando conversa fora. Parecia até que cada grupinho estava formado, completo. Ninguém entrava ou ninguém saía, como se fosse um pacto etílico. Seria bem possível que se algum transeunte tivesse a ousadia de perguntar num grupinho deste se alguém tinha horas, no mínimo ouviria como resposta algo assim: "Não tenho, pois acho que perdi ontem na festa" ou então outra assim: "Não. Apenas tenho raiva de quem tem hora. Ela é nossa inimiga" Pensando bem, dava para perceber. Já no retorno da minha atividade física, ao passar pelo mesmo lugar, aqueles grupinhos já tinham se desfeitos assim como a ausência dos estampidos dos rojões, transformando o nosso ambiente familiar agora num silêncio augusto e de mosteiro que nos faltou na noite anterior com alguma ou sem nenhuma razão específica. Vai da interpretação de cada pessoa.