E O ANO SE FOI
E O ANO SE FOI
Como tempestade no deserto, sobre a areia as águas pareciam trinfar sobre a seca, mas tão logo tendo voltado a sequidão. Turbulência de um país desastrado, onde o verde e o amarelo, cobriu de cor as ruas de todas as cidades, mas em vindo a noite tudo se tornou novamente cinzento. O medo, angustia e morte pernoitaram nos presídios sombrios na vida de gente que jamais podia pensar um dia na negritude do mal. Rotulado de justiça marcado como tempo de celebração, homens maus se deleitam no sarcasmo, dominam as instituições e roubam a paz dos brasileiros, o ano se foi. Como hienas famintas, de bocas arreganhadas, dominantes do sistema, devoraram tudo que estava ao seu alcance, deixando um rastro de sangue, ao sabor dos vampiros das meias noites, onde as mesas ostentaram projetos escabrosos, construídos para o mau, não deixando sombras de dúvidas. Bilhões distribuídos aos famintos políticos, que não resistiram a tentação de se tornarem milionários, ao afago do Diabo mestre, aquele que deixou o seu nordeste a espera do progresso, da casa própria, da picanha e da cerveja, com o prato vazio, com o pranto no rosto, olhos avermelhados pelo desgaste provocado pelo calor causticante que domina suas terras, o ano se foi. Como bandeiras desgastadas pelo vento e pelo tempo, aos trapos, conduzidas por seus manifestantes, perdidos e arrasados como lavoura após as queimadas, tudo cinzento de novo. O que esperar, se mesmo que vindo a chuva a regar a terra, se semente não há, o velho caboclo de barba por fazer, de seu pito arranca uma baforada ao ar e chora por ver a sua terra arrasada, que esperar do governo? Nada! Do nada também se costuma viver, quando ainda na paisagem morta se destaca o mandacaru, quem sabe se o cabrito magro dele ainda sobreviva, e a gente vai bebendo da água barrenta que ainda resta no fundo do lago a secar, o ano se foi. Como celebração de Natal, em que Papai Noel não teve trenó e nem rena para conduzir ao seu destino amoroso ao encontro das crianças a esperar. Natal de saco furado onde tudo vazou pelos fundos dos ministérios sugadores, onde o Diabo mestre, ao descaso deixou a chave do cofre, voando nas nuvens em lua de mel desfrutando dos prazeres de um mundo colocado aos seus pés. Frustrados, os amigos de Papai Noel, se tem voltado ao verdadeiro aniversariante para chorar as mágoas do engano de um governo miserável e faminto por dinheiro. Ó Cristo, miseráveis que somos por não ter pensado direito, tendo desdenhado o inimigo, que tão voraz tomou conta de tudo, e como gafanhotos famintos vem devorando a esperança de pelo menos celebrar o Natal. Perdão, por termos permanecido no imaginário construído pelas crianças, e nos termos perdidos no tempo, celebrando tantos natais, mas deixando nosso Cristo à porta. A água não mais se transformou em vinho, e o amargo do féu enrustiu nossa garganta e com gosto do sangue derramado na cruz, se fez brotar em nossa alma, nos fazendo merecedores daquela coroa de espinhos, o ano se foi. Ainda se ouve músicas natalinas sendo tocadas timidamente, como se tivéssemos tornado surdos, mudos e sem palavras, restando-nos apenas um sentimento de que nem tudo está perdido, aprendemos a esperar no Senhor, até que venham os tempos de refrigério. Ouço o piano tocar a suave ave Maria, na melodia mais linda e serena, nos convidando a refletir no bem maior que vem de Deus, Senhor sobre todas as coisas, Aquele que tem renovado as nossas forças nos remetendo além deste mundo cruel, o ano se foi.