E Chegou o Natal
É Natal, e as palavras de futuro, juntamente com as ações filantrópicas, enfeitam nossos neurônios como lindas joias. Precisamos delas como armas vitais para humanizar, pelo menos por alguns instantes, toda essa barbárie vivida no mundo cão. Afinal, temos os egos esculpidos nos shoppings centers, a consumir desvairadamente os produtos da moda impostos por multinacionais. Precisamos delas como o barco que nos salve no oceano composto por nosso silêncio e conformismo diante das torpezas mundanas.
São essenciais como mecanismo de conveniência social ao revelar os presentinhos de fim de ano e tecer belíssimos comentários sobre a suposta qualidade daquela pessoa que, no fundo do seu coração, considera um perfeito idiota. Mobilizamo-nos em campanhas de ajuda aos necessitados e instituições filantrópicas para aliviar e recompensar a consciência, com o mantra "faço isso para não perder os benefícios sociais, além da imagem de humanitário e bom moço!".
Em um surto de filantropia instantânea, digno de inveja a qualquer Teresa de Calcutá, utilizamos uma coleção de diferentes máscaras sociais, cada uma apropriada a uma situação específica. Seja o empresário que distribui bolas de futebol aos miseráveis em uma favela ou o grupo de amigos que visita um lar de cegos. Realmente, fingir um pouco para obter benefícios não parece ser um problema na prática. E as palavras de um futuro bom continuam sendo invocadas, pois são elas que nos salvarão do próximo ano de todos os preconceitos, rumo a um futuro promissor onde habitam os ursinhos carinhosos.
No entanto, enquanto escutamos os líderes religiosos engendrando otimismo e abarrotamos o estômago de peru, acompanhamos os programas televisivos que fazem um making-off de todas as mazelas pútridas e cada vez mais horrendas do que aconteceu nos últimos doze meses. Assistimos às inúmeras cenas de assassinatos, tragédias naturais, estupros, roubos e, naturalizados de forma mecânica e bestial com esse enredo que toda década se repete, engolimos a asinha de frango e pensamos: "ano que vem, tenho fé que tudo será bem melhor!".
Enfim, enfatizamos o amor e a importância dos valores morais, à semelhança do nascimento do menino Jesus, enquanto, na prática, ignoramos os seus valores no instante em que nos tornamos o Papai Noel pagão, egoísta, voraz, ávido em apenas ganhar no mundo do salve-se quem puder.
Dessa forma, o espírito consumista “enriquece” nossas vidas e dá “significado verdadeiro” ao natal moderno. Que importância tem o nascimento de uma criança em uma manjedoura quando podemos desfrutar do frenesi das compras e competir para ver quem dá o presente mais caro? É a essência do natal a consumação de desejos materiais e a busca incessante por status social? O que importa o aconchego e aproximação entre familiares nesta data? Afinal, nada aquece o coração como o brilho de um cartão de crédito sendo deslizado em uma máquina. Que o espírito consumista continue a iluminar nossos caminhos, pois, afinal, é o que realmente importa no natal da sociedade pós-moderna.
24.11.2011