Bigamia no futebol
Torcer para times de futebol é uma questão de fidelidade. Não é o meu caso. Sou infiel em termos de futebol por uma questão histórica: na Pitangui dos anos 50, não se assistia futebol mineiro. Só carioca. E, de repente, ainda muda pra frente da minha casa, no Beco dos Canudos, a família Cézar Mota. A não ser o Demóstenes, mais tarde padre, palmeirense, os outros eram Flamengo. Toninho e Humberto, este, mais tarde, vice-presidente do próprio "Mengão", foram os responsáveis pela minha adesão ao rubro-negro carioca. Andavam sempre paramentados com o manto sagrado, quando não vestidos com o uniforme das Classes Anexas.
Toninho, o mais frenético de todos, jogava uma bola de borracha na parede, saltava, agarrava e gritava "defendeu Fernando, defendeu Ari", os goleiros rubro-negros da época. Não se ouviam os gritos dos estádios Antônio Carlos (Atlético), da Alameda (América), do Barro Preto (Cruzeiro) ou de Nova Lima (Vila Nova). Na TV Tupi do Rio de Janeiro, assistiam-se ao vivo as tardes esportivas Goodyear. Essas transmissões nos transportavam aos reinos futebolísticos da maravilhosa Rio de Janeiro dos anos 50 e 60. Antes de aparecer televisão em casa, eu assistia aos jogos na casa do Gilberto "Becô" de Oliveira Santos.
Depois, ouvindo as resenhas das tardes esportivas pela Rádio Bandeirantes, de São Paulo, integrante da cadeia Verde Amarela, Norte-Sul do País, conferia os resultados de todos os campeonatos estaduais. Com isso, fui criando preferências em cada estado; Corinthians, São Paulo e Palmeiras, conforme a classificação, na Paulicéia; Náutico, no Recife; Bahia, em Salvador, e Grêmio, no Rio Grande do Sul.
De times favoritos em quase todos os estados, fui reduzindo, reduzindo, até parar em dois. Esses não consigo abandonar. Chamem-me bígamo, tudo bem. Já fui pior.
Agora, dezembro de 2023, o América caiu de novo. Mas volta, may God bless me. O Flamengo, por enquanto, me segura na primeirona.