Tenho uma mania que me acompanha desde adolescente: eu gosto de guardar tudo. Pedaços de memórias que vivem em todos os cantos da minha casa, dentro de cadernos, de livros, em qualquer cantinho que seja. É um bilhetinho, uma foto, uma rosa seca. O interessante é que eu posso esquecer de algumas coisas no meu dia a dia, mas, ao olhar para essas lembranças, tudo vêm como se fosse um filme.

 

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Coisas que me presentearam, momentos que passei, emoções que senti. Se olho para aquele pequeno objeto, meu pensamento voa… e os sentimentos vêm de uma forma muito intensa. Uma vez uma amiga disse que não gostava de fotografias porque era apenas o momento, e depois tudo mudava. É verdade, mas é esse eternizar que me encanta.  Tenho duas caixas enormes de fotografias (no tempo em que não existia a digital), e muitas vezes fico mergulhada nelas, olhando todos os momentos ali eternizados.

 

Ontem me veio uma lembrança do meu pai; quando já estava bem velho, sentava no terraço de casa com uma caixinha de fotos e lembranças. Então, eu me sentava ali com ele, e ele me mostrava uma, depois outra foto, todas de nós, seus filhos, quando pequenos. Um dia eu pedi para ele se poderia trazer essas fotos para os EUA para escaneá-las. Ele agarrou a caixinha contra seu peito e disse: “ – Não! Não me tire essas lembranças! Quando eu morrer, você pode ficar com todas!”. E quando ele morreu, anos mais tarde, minha irmã separou num saquinho plástico com tudo, tinha até cartãozinho do INPS, a sua carteira de motorista, um cartãozinho de uma loja de cosméticos que tivemos, aquelas fotografias e outras coisinhas. Agora está tudo aqui. as lembranças de meu pai, comigo. Essa época de fim de ano emerge o meu lado sentimental, e vem então um pacote de lembranças que quero cultivar.

 

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Outra memória é a imagem da minha mãe fazendo tricô sentada no sofá de nossa casa. Fazia trabalhos lindos, paletózinhos para bebês, com suas mãos de fada. Depois do almoco, a certa hora,  levantava de seu soninho da tarde, e aparecia na cozinha com seu penhoir com aquele olhar doce, sonado - como era bonita minha mãe! -  e dava aquele sorriso terno e esmaecido. Em casa podia faltar tudo, menos uma mesa com uma garrafa térmica e um café  adoçado com o olhar de minha mãe.

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A noite assistiamos  novelas juntas, e eu deitava minha cabeça em seu colo;  nós duas chorávamos emocionadas com as histórias, chegando um dia a assustar meu irmão que, abrindo a porta e perguntou: “O que aconteceu?” Ah! não era nada… só emoção mesmo…

 

A imagem de meu pai sentado na cadeira dele (aquela tal que chamava no meu tempo “cadeira do papai”) jogando conversa fora, perguntando do meu emprego, ou contando uma piada. Ele  não era muito de abraços, nem de mostrar seus sentimentos. Mas demonstrava em gestos, através de tudo que nos dava com amor.

Um fato engraçado: ele não era de muito falar… e tinha um amigo, chamado Sr. Silva, já velho. E meu pai ia buscá-lo todos os dias para irem juntos para a cidade. Meu pai ia para seu trabalho (como Gerente de Cinema) e o Sr. Silva ia dar umas voltas pela cidade. E a rotina diária era: o telefone tocava, 1 hora da tarde, meu pai atendia e dizia: “Alô” – depois uma pausa, silêncio e ele dizia: “Tá!”. E saía. Era esse o diálogo dele com seu melhor amigo.

 

Daria tudo para hoje passar um pouco de tempo com eles, vendo minha mãe cuidar das roseiras, conversar com seus antúrios, de meu pai chegar em casa cheio de compras com seu assobio costumeiro, e meu cachorrinho Toquinho latindo em volta dele, das risadas, da inocencia.

A vida passa muito depressa. Mas que coisa mais maravilhosa é poder guardar essas lembranças e abri-las, como um livro, a hora que quisermos. Existe aquele momento certo em que precisamos disso como um bálsamo, um banho de afeto que lava a nossa alma e nos renova.

 

Nessa época do ano  muitas lembranças nos visitam, os momentos felizes que vivemos, as pessoas que amamos, as conquistas que alcançamos. Lembramos também dos desafios que enfrentamos, das perdas que sofremos, das lições que aprendemos. É  a hora de repensar as nossas atitudes, o modo como vivemos e mudar aquilo que precisa ser mudado. O tempo é o que de mais valioso temos, e é preciso aproveitá-lo. Ele é a nossa vida -  é nele que construímos a nossa história.

 

FELIZ 2024!  


(Foto feita pelo Facebook)

 

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Mary Fioratti
Enviado por Mary Fioratti em 23/12/2023
Reeditado em 24/12/2023
Código do texto: T7960570
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