Por que não eu ... (Maria Mal-Amada)

Porque não eu...

Crônica extraída do livro Maria Mal-Amada

de Lorena de Macedo

Eu visto a minha melhor roupa e gasto quase o vidro inteiro do meu perfume mais caro acreditando que você irá notar. Será que vai sentir meu cheiro quando passar por mim? Será que notará o meu decote, o jeans apertado, a sandália de salto...

Sei que poderia cuidar de você da melhor maneira possível. Aliás, tenho certeza de que você jamais foi cuidado como merece. Você esbarra levemente no meu ombro esquerdo e pede desculpa sem olhar diretamente para mim. Então me pergunto: Será que você esbarrou de propósito? Será que queria tocar em mim? Mas eu sei, sei que estou querendo enganar a mim mesma. E mais uma vez o momento se foi. Você não me cheirou, não reparou em mim.

Então eu descubro que olhar e enxergar são ações completamente diferentes, porque todos os dias você me olha, mas não me enxerga. Se ao menos virasse o pescoço para o lado só um pouquinho...

Já não sei mais o que fazer para não querer você. Todos os dias eu não quero você. Não quero seu beijo, não quero sua atenção, não quero, não espero...

Será possível não esperar nada de você? A rejeição é mesmo desagradável. Alguém dá aquele tapinha camarada no meu ombro e diz que toda panela tem sua tampa, e que talvez você não seja minha tampa. Acho que estou mais para frigideira. Sem tampa, sem esperança...

Tento me convencer de que o tempo fará seu trabalho, varrendo do meu pensamento qualquer vestígio seu. Mas é muito difícil argumentar para si mesma tendo um coração tão inteligente. Ele não se convence fácil não.

Já Sei! Você poderia me mostrar o caminho do esquecimento já que é o responsável por toda essa situação constrangedora. Tenho certeza que sabe como fazer.

Então vamos lá! Ensine-me a não sonhar com os seus abraços, a não reconhecer seu cheiro em todos os lugares, a não criar situações para esbarrar em você. Mostre o antídoto, a cura para essa “dor de cotovelo” que dói de verdade.

Quem é que determina quem é a tampa e quem é a panela? Quem escolhe os pares? Preciso ter uma conversa séria com essa pessoa para lhe dizer que algo está errado. Pois afinal, existem muitas frigideiras por aí como eu. Acho que você também é uma frigideira porque nunca ficou com nenhuma tampa ou panela por muito tempo.

“Pé descalço e sapato velho”, “Chave e fechadura”, tudo isso é pura enganação. Talvez amanhã você esbarre em mim novamente. Acho que vou mudar de perfume...