Minha terra tem peixes e os marrecos vêm nadar

Antes, eu ia ver os peixes quando eu queria, sabendo que peixe não gosta de Sol do meio dia.

Não adianta, eles não vêm.

Então eu achava que o poço era só lama e água.

Eu teimei, eu teimava.

Peixe não vê o tempo passar,

Mas vê a gente chegar

E espera a hora de subir à superfície.

Hoje, fui jogar pão para os peixes na hora que vô Idelvino sabia:

No crepúsculo, finzin de tarde.

E no poço tem peixe sim, viu?

Dos pequenos e dos grandes!

Tem muito banco de areia também,

Mas os peixes estão lá, abocanhando os pedaços de pão!

Escondi-me entre as bananeiras,

tentando lembrar como fazia o pescador,

E, quando eu menos esperava, veio um vulto, Coração parou.

Tremi, gelei.

Que alívio!

Era um casal de marrecos que pousou na água.

Sabia que aquele momento duraria pouco.

Refleti sobre a minha sorte e a contingência:

Não planejei ver os peixes,

Não esperei pelos marrecos,

Não sabia que teria pão para alimentar os dois.

Mas vi, vieram e tinha.

Gostei, pois aproveitava.

Bicho do mato é esperto e desconfiado,

Logo os marrecos iriam embora: e foram.

Mas os peixes ficaram.

Agora entendi:

Tenho minha hora de chegar, de permanecer, e de sair.

Mas o tempo das coisas é meu também,

Senão não vejo, e acho que não tem.

Naquele "quando", eu era outro bicho no mato.

O tempo dos peixes, dos marrecos, das cigarras, Naquela hora era todo nosso.

Depois, veio a hora da noite.

Depois lembrei que sou gente

E o tempo da gente agora é outro,

Parti, pois chorava.