AS ELEIÇÕES E A CONTABILIDADE
Sobre as máquinas e sua confiabilidade, acho que tenho alguma coisa a dizer.
Como exerci a profissão de Técnico em Contabilidade de 1965 a 2019, durante 54 anos convivi com as agruras e o sucesso durante tal lapso de tempo, na profissão.
No princípio as máquinas eram mais como inimigas a serem dominadas e/ou domadas.
Eram as chamadas máquinas de somar (as mais utilizadas, que também subtraiam), depois as que multiplicavam, como as MULTISUMMA da Olivetti e depois as DIVISUMMA, da mesma Olivetti.
Todas possuíam suas capacidades de somar, diminuir, multiplicar e dividir, mas não eram essas maravilhas de hoje em dia, as máquinas eletrônicas... Todas eram mecânicas. No início manuais com inúmeros procedimentos como as fabricadas pela FACIT, que demandavam rodar uma manivelinha ora pra frente, ora pra trás... era um tormento. Depois surgiram as máquinas elétricas, que funcionavam com o toque dos dedos nas teclas e os resultados das operações apareciam no visor delas.
Mas, tanto a contabilidade, como a matemática são ciências exatas, não podia haver engano no teclar os botões das maquininhas, sob o risco de fazer a mesma operação mais de uma vez, para conferência e fechamento dos Caixas, Balanços e Balancetes.
Então, surgiu a fita de papel, cujo rolo era acoplado nas máquinas e deixava impresso os números teclados pelo operador, o que proporcionava que se conferisse os resultados das operações.
Fitas imensas desse papel se estendia pelo chão dos Escritórios e após impulsionada a tecla de resultado, o famoso "enter" dos computadores atuais, duas pessoas podiam enfim, conferir se havia algum erro do funcionário. Um, não aquele que teclou os números, ia, com uma régua sob cada número e "cantava" esse número para outro funcionário, que "ticava" (isto é, dava um sinal de conferência ao lado do número, na fita. E assim, terminada essa conferência os resultados eram escritos à mão, nos livros Registro de Entrada de Mercadorias, Registro de Saídas de Mercadorias, Livro Caixa, Borrador, Diário...
E tudo havia que "fechar", um livro, após o outro, até chegar no Livro Balanço Geral, que seria alvo então da Fiscalização Estadual/Federal.
Sem essa fita de papel acoplada às máquinas de calcular, na qual se viam impressos os números das operações, era um risco confiar no operador da máquina, se tinha errado ou acertado no ato de teclar qualquer número, que daria um resultado não confiável, pois que somente aparecia o resultado final no visor da máquina. Não havia como conferir.
Digo isto, porquê estamos às vésperas de mais uma eleição, no Brasil, e, ainda se discute de um modo de conferir os votos inseridos nas urnas eletrônicas, quando serão totalizados os votos e transferidos esses dados para outra máquina dar o RESULTADO FINAL DAS ELEIÇÕES.
Entendo que o exemplo que discorri acima, dos meus tempos nos Escritórios de Contabilidade por onde trabalhei nesses mais de meio século é uma boa maneira de ver as coisas.
Sem o rolinho de fita acoplado às máquinas antigas, não seria possível conferir o serviço.
Não havia como abrir a máquina e ver os números sendo armazenados lá dentro e somados, subtraídos, multiplicados ou divididos.
Com a tecnologia de hoje em dia, não necessitaria mais do rolinho de papel acoplado às urnas, mas, somente um pedacinho de papel que imprimiria o voto e quando se desse o famoso "enter" seria picotado e cairia num espaço dentro da urna, o que propiciaria a conferência, caso fosse necessário, posteriormente.
Desculpem se me utilizo de um exemplo tão arcaico dos meus tempos de uma profissão que exerci durante tanto tempo, com denodo e paixão, passando por tantas fases e transformações, para tentar explicar como seria simples resolver esse problema das urnas eletrônicas, que veio para ficar, mas precisa se atualizar, como as máquinas de então...
e nem posso imaginar de como pude parar de trabalhar nessa profissão, tão apaixonante, que escolhi para minha sobrevivência. Só o tempo pode explicar.
Somente o freio da Covid 19 teve esse condão de me parar em 17/03/2020.
Vicente de Paulo Clemente