Rituais para o novo ano

Quando eu era muito jovem, no fim de cada ano, embora a nossa família não se importasse com comemorações, nós nos juntávamos na casa da minha mãe.

Geralmente, o assunto era a cor da virada do ano, o que comeríamos para ter prosperidade e sorte.

Na minha cabeça, isso tudo era um evento.

Engraçado. Não dava pra entender a força que a cor verde traria para a minha saúde, ou passar de branco para ter paz.

Era legal.

A minha mãe, sempre, minutos antes do novo ano entrar, acendia as luzes e dizia que era importante ter a luz na passagem de ano.

E assim foi feito.

Ano após ano, até que há 11 anos, em um dia de agosto, ela faleceu.

A sua luz se apagou, mesmo com todos os "rituais" de ano-novo cumpridos com precisão.

Naquele fim de ano, há 11 anos, ninguém se abraçou, nem decidimos qual era a melhor cor e não deixamos a luz entrar com o próximo ano.

Sempre nos preocupávamos em ter uma atitude positiva na passagem do ano e naquele momento, eu passei chorando, usando um velho pijama e com uma tristeza indescritível . - não consigo imaginar uma atitude menos positiva -

Talvez, este seja um texto um pouco pessimista para a virada de ano, mas gosto de lembrar das fases ruins.

São as fases ruins que me fazem enxergar as coisas como elas são.

Às vezes, eu penso que estou no meu pior momento, aí eu lembro de outras fases e vejo que não, nem está tão ruim assim.

Quando eu vejo pessoas tão preocupadas com coisas superficiais, eu acho graça, me encanta, é realmente difícil encontrar pessoas que nunca sofreram ou que de fato superaram alguma situação muito ruim.

Nunca sei se é inocência ou superação, mas de verdade não importa.

Hoje, sem querer, as luzes ficam acesas, só penso que a cor verde atrai saúde e a branca a paz, apenas penso.

Isso acontece, sem querer.

É apenas o relógio da vida girando enquanto o tempo não liga para o que aconteceu lá atrás.