O mar à primeira vista
Após uma longa noite de viagem, onde não dormi, contemplando a penumbra da cidade, que vez em quando se mostrava viva, através dos faróis dos carros e postes luminosos, amanheceu e nos aproximamos do nosso destino de embarque: Aracati/praia canoa quebrada. Um primeiro vislumbre que tive foi com as grandes hélices eólicas. Pela janela do ônibus pareciam enormes moinhos de ventos. Por alguma razão, lembrei de Dom Quixote e sua clássica luta contra os moinhos de vento. Talvez isso seja um lembrete para não dar tanta atenção aos problemas que surgem no caminho.
Alguns metros adiante, o susto: O mar! Hectares e hectares de água, balançando em inúmeras ondas e sumindo até o horizonte. Tudo o que eu pude exclamar foi: caramba! Caramba! Caramba! Ao chegar na praia, não contive o recato social e corri ao encontro do grande gigante! É impossível descrever nas palavras exatas a emoção que senti no momento, um sentimento que surge em nós, sem haver uma palavra correta para nomeá-lo. Como me senti pequena diante daquela imensidão! Maravilhada com tamanha grandeza! Aqueles olhos de domingo, se alinharam com os olhos infantis que, anos atrás, com o mesmo encantamento admirava o infinito azul do céu, se perguntando com a mesma pureza infantil: como pode ser tão grande?!
Nesta semana, li um artigo em que dizia que a água possivelmente chegou até nós através de cometas que bombardearam à terra há bilhões de anos. Acredito que isso talvez explique a sensação de conexão que eu tive com o infinito. Estava contemplando algo que veio do infinito interestelar, ao vivo e a cores. Saber que estava fazendo parte, mesmo que por pouco tempo, de algo tão magnifico e, ao mesmo tempo, misterioso e aterrorizante. Não tive medo, parei, silenciei todos os sentidos e prestei respeito e honraria.
Chegada a hora de ir embora, procurei gravar a sua visão o máximo possível que consegui. Sendo do signo de escorpião e, assim, tendo toda a constituição formada pelo mesmo elemento, a água, me despedi cheia de saudade do grande gigante azul, com a expectativa de que, em breve, possa vê-lo novamente.