Caminhos

Confesso que nunca entendi bem o ódio, se é que esse merece entendimento. Mas desde muito cedo precisei lidar com ele. Lembro-me que aos meus 9 anos de idade, meu pai precisou abandonar um bom emprego que lhe dava estabilidade financeira e atendia bem nossa família, mulher e três filhos, e às pressas, nos tirou da escola para mudarmos para outra cidade. Tudo por conta dele querer se colocar no lugar de pai de uma sobrinha (que perdera seu pai muito cedo) e, se sentindo no direito de opinar no namoro da tal_ envolvida com um bandido, acabou sofrendo ameaças por parte deste. O que mudou totalmente o rumo de nossas vidas. Eu e meus irmãos tivemos que nos adaptar forçosamente ao novo lugar e à nova escola, já com bimestres avançados... eu consegui entrar no ritmo e alcançar notas para passar de ano, já meus irmãos não. Mais à frente meu pai cedeu espaço em nossa casa para acolher um primo distante com sua esposa e casal de filhos. O mesmo, se encontrava desempregado, vivendo situação difícil fazendo bicos para sustentar a família, e meu pai, sempre tão generoso, não pensou duas vezes. Se uma família vivendo debaixo do mesmo teto já sofre conflitos, imagine duas... aposto que meu saudoso pai, à época dos fatos, nem cogitou que a convivência seria um desafio; querendo sempre bancar um bom anfitrião, tudo de errado que meus primos faziam, a culpa sempre recaía sobre mim e meus irmãos... por mais que não tivéssemos culpa, eles se favoreciam da oportunidade e aprontavam demais conosco. O que só gerou ódio e atrito entre nós. Quando foram finalmente morar em outra casa, o estrago já estava feito. E não parou por aí, eu sempre tive poucas amizades e era repudiada por outras meninas, as quais minha tal "prima " fazia a cabeça contra minha pessoa. Percebi tardiamente que ela não passava de uma invejosa que disputava coisas e pessoas. E então aprendi a estar sempre só, ser caçoada por todos e conviver com a toxicidade que a mesma me ofertava, achando que era melhor isso do que não ter afeto nenhum. Amigos eu fiz por conta dos caminhos onde trilhei, alguns poucos que posso contar nos dedos. Que tolinha eu fui no passado ... hoje, restituída de mim, resgatada pelo amor próprio, pelo autoconhecimento, em um caso de amor eterno com minha solitude, reconheço que todas situações extremamente desafiadoras e as estradas solitárias que percorri, não corromperam meu caráter e nem me tornaram má pessoa. Não digeri o veneno e de quebra aprendi a criar antídotos para defender-me da maldade alheia. Aprendi a encontrar refúgio dentro da minha morada interna, em detrimento de querer revidar o mal. Se bem que o BEM, mesmo que não intencional, já é um revide para o outro cair em si e refletir suas posturas. Acredito que nada nessa vida aconteça ao acaso. Bem como acredito muito nas leis do universo e da física, sobretudo na lei DA AÇÃO E REAÇÃO. Deus tem um propósito para a vida de cada um, pelo amor ou pela dor, este será desvelado. E de tudo pode se tirar um grande aprendizado; para tal, perspectiva é fundamental. Escolhi enxergar as coisas de modo que me agregasse conhecimento em algo, pegando impulso nas situ(ações) mais inusitadas. O bom de sermos íntegros à nossa essência, é que caminhamos leves e serenos... sem peso de consciência. Porque temos certeza que demos o nosso melhor, sem esperar nada em troca, simples(mente) porque não conseguiríamos ser diferente e nem usar como parâmetro as ações e reações alheias, pois isso nos faria caminhar alheios a nós mesmos, distantes ao que intrinsecamente corresponde a nossa maneira de ser. A vida trata de colocar cada coisa em seu devido lugar, basta ocupar nosso próprio lugar. Não se trata de ser passivo demais, mas de confiar que algumas coisas não estão sob nosso controle e só por isso não devemos dispersar nossa energia. São frivolidades que, se recebem demais a nossa atenção, podem nos sucumbir e mantermo-nos num círculo vicioso ( e altamente danoso). Precisamos ter foco, para não sermos engolidos por algumas situ(ações), criando ações inovadoras, corrigindo rotas, adotando novas posturas, sendo mais gentis com a gente mesmo e valorizando os que caminham ao nosso lado. No final, cada um terá que dá conta de si mesmo. E confrontar-se pode ser o maior dos combates. Aprendi a combater as "ervas daninhas" , confiar nos processos, ser uma grande cultivadora... lançando as sementes certas no meu jardim interno, aguardando meu florescimento sem contar com as estações, porque nem sempre serão favoráveis... aprendendo a trazer algumas circunstâncias a meu favor, no meu labor... e ter essa postura fez toda diferença, para que ao olhar para trás, não me envergonhasse de quem fui, e hoje posso me olhar no espelho sem remorso algum, orgulhosa de quem estou disposta a SER a cada dia, sem comparações, nem definições, apenas me renovando, respeitando a ciclicidade da vida, migrando minhas raízes para solos férteis que permitam minha evolução. Porque a solo tive que galgar sobre solos ásperos, e fazer o recuo... para dentro... onde consegui garimpar e encontrar a jóia luminosa que me daria a direção: meu amor próprio.

Fênix Arte
Enviado por Fênix Arte em 20/12/2023
Código do texto: T7957820
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