A volta por cima

Ai do homem se não lhe fossem presenciais as dores e as dificuldades. A vida deixa na velhice o sumo da sabedoria. É por isso que os velhos adoram as crianças. Sem aquelas o que seria destes? O pegadouro dessa sabedoria está na contramarcha da vida e nos dissabores que dela advêm. O rendedouro desse cruzar com dificuldades é o excitativo da aprendizagem. O homem é o que vive. Se ele ama, vence! Ai dos cabelos lisos se não houvesse o laquê. Esse palanfrório todo é apenas para explicar que a vida é do tamanho da capacidade que se desenvolve dentro de nós para suplantar obstáculos, cruzar com as adversidades e sairmos de tudo isso sóbrios e aperfeiçoados. O boi de carro, quanto mais trabalha carregando peso, mais a natureza lhe oferta toutiço grosso. Conhecemos sua força através deste.

Nossos atos verecundos não podem macular o que há de bonito dentro de nossas almas. Prognosticar a felicidade que há dentro de nós é fundamental. O homem que não sonha, não pode ter esperança e conseqüentemente jamais subirá a escada e encontrará sua felicidade. A temibilidade que resiste dentro de nós é deveras essencial para nos mostrar que devemos rejeitar os caminhos da rabugice em prol do horizonte de amor e paz. Pecar é molestoso demais quando dentro de nós pomos o alimento para fomentar as nossas maldades carnais. Saber aparar arestas é próprio dos grandes seres, ninguém deve enfrentar o oceano sozinho mas acompanhado dos rios de sabedoria e de felicidade que navegamos com a vida.

A depressão deve ficar debaixo de nossos pés. Nossa alma, essa sim, deve passear nos jardins edênicos que porventura achar nosso olhar, quando encontrar a felicidade. Não se pode ir a lugar nenhum e sentir-se bem, quando até na hora de adentrarmos as estradas, nosso coração não quiser ser um viajante buscador e amigo da alegria.

Fim de ano deve ser época de alegria, como também o início e o meio dele. Não nos iludamos com a idéia de que a felicidade possa chegar-nos mais intensamente apenas nessa época. Que nada! Podemos ser felizes (nos sentirmos felizes) até no dia de finados. Afinal, morrer é renovar-se para participar doutra vida, dessa vez eterna. Mas, para que nossa alma sinta esse prazer fabuloso, é preciso que ela creia e participe dessa vontade e defenda esse axioma.

O amor é o melhor caminho para se atingir a felicidade. Ninguém consegue esse estado sem amar e amar em plenitude e abundância. Um amor que não ampare preconceitos e fatos imperdoáveis. Mais venial do que tudo isso é querer ser feliz!

A gente deve criar um Papai Noel dentro da gente em todos os dias de nossas vidas. É melhor ser-se feliz sem se esperar por uma felicidade prometida pelas compras natalinas ou por lívidos instantes de discreta alegria. Chorar muitas vezes é sintonizar-se com o agradecimento e saber que estamos bem melhor do que antes. Isso é salutar. Afinal, dentro de nós há valores que só podem ser verdadeiramente acordados se nossa alma os quiser. E, sendo assim, é melhor querermos isso a toda hora e em todo o lugar.

O Natal deve ser como o traduzível nascimento que há no ajuntamento de suas letras. O que nasce traz alguma esperança, e o amor é a mais curta estrada para que essa mesma esperança encontre a felicidade. Neste e em todos os outros Natais, que a paz seja tão presencial entre os homens, quanto o amor e a esperança!