USO PRIVADO DO ESPAÇO PÚBLICO

Pois é, a gente vai ficando mais velho e as coisas que já nos importunavam anteriormente, agora não só cresceram em diversidade, mas também em quantidade. Falo do uso do espaço público, que pela definição de ser público não deveria em hipótese nenhuma ser utilizado para uso privado, não importando se este usuário remunera o Estado pelo uso.

E olha, exemplos do absurdo não faltam nesta Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, basta usar o modo pedestre que você vai literalmente dar de cara com calçadas estreitas e ainda ocupadas pela camelotagem, megalojas que oferecem de tudo, mas que são chamadas de banca de jornal, que a partir de disseminação da versão digital, hoje convive com poucos títulos de periódicos, e tiragem reduzida.

Em qualquer outra cidade essa modalidade de comércio precisa se instalar em lojas, como qualquer outro comerciante. Os chaveiros aproveitaram essa mesma onda e também são mais um estorvo a se instalar na calçada.

Já os bares, independente do tamanho de sua área interna, necessariamente se apoderam da calçada à sua frente, muitas vezes nem lembrando que calçadas, pelo menos em teoria são destinadas a circulação de pedestres. Hoje, o desprendimento desses empresários não tem limites e alguns já conseguiram instalar seu chiqueirinho inclusive na rua, ocupando o que seria uma área destinada a estacionamento de veículos. O melhor exemplo desta novidade é a Rua Dias Ferreira, no Leblon.

Mas como não existe limite para a criatividade, e claro, as autoridades se fazem de cegas, acontecem então excentricidades e a nossa lagoa Rodrigo de Freitas está sempre na mira desses empresários da oportunidade, abutres que visam o lucro a partir de ideias concebidas fora da caixa.

Um bom exemplo dessa prática, foram os pic nic que começaram a pipocar espontaneamente na área do Corte Cantagalo, há uns três anos minha filha comemorou seu aniversário às margens da lagoa, com uns poucos parentes e amigos.

Os espertinhos de plantão encamparam a ideia, e logo entraram em ação, chegam cedo e ocupar todos os espaços do gramado com seu aparato de colchas, banquinhos e geladeiras, cercando com cordas o “seu Terreno”. Em pouco tempo, quem quiser desfrutar do espaço público vai precisar remunerar esses oportunistas.

Qual foi minha surpresa semana passada ao passar pelo corte, e constatar a estrutura metálica montada normalmente para as festas natalinas e de ano novo continuava de pé no Corte Cantagalo.

Interessante que não vislumbrei nenhuma placa de autorização para ocupação de uma área tão grande, não se respeitou inclusive a fragilidade do solo local, onde constantemente a prefeitura precisa reforçar o desestruturado aterro, agora sob a pressão de um gigantesco guindaste que alça aos céus um grupo de até 25 curiosos, que devidamente fixados a poltronas, vão desfrutar de uma refeição servida a cinquenta metros de altitude, e claro com pratos assinado por algum renomado chef.

Essa intervenção urbana parece não ter prazo de encerramento, mesmo interferindo diretamente no cotidiano dos usuários e pequenos comerciantes que alugam bicicletas ou vendem coco gelado na área indevidamente ocupada por esta atração carioca, e que desfruta de tombamento de suas margens, claramente não respeitado pelo empreendimento.

Como absurdos hoje são constantemente tolerados pela população, porque esse também não seria absorvido?

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 19/12/2023
Código do texto: T7957237
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.