UMA MANHÃ DIFERENCIADA
O sábado à noite combinou chuva com queda da temperatura, resultado de mais uma das muitas frentes frias que vem lá do sul, e que de alguma forma nos lembram do inverno nesses nossos tristes trópicos, que mesmo no inverno, constantemente convivemos com temperaturas que superam os 30° centígrados.
A previsão do tempo para domingo apontava para um céu nublado, o que não impediria caminhar por Ipanema, em meu espaço predileto, o úmido encontro da areia com o mar.
Confirmei na prática, aquele ditado de que cariocas não gostam de dias nublados, e a praia se mantinha deserta de banhistas.
Impressiona o otimismo dos barraqueiros, mesmo cientes de como seria o dia, não se deixaram abater, armaram estrategicamente cadeiras e barracas nas areias, quem sabe na busca de um milagre. Em termos decorativos, bandeiras alçadas ao vento e a massa de equipamentos sem padronização dispostos lado a lado na areia, traziam formas e cores ao monótono ambiente vazio.
Caminhar na areia dura, sob constante impacto do vento, acompanhado do intermitente som do quebrar ondas, te transporta para outra dimensão, trazendo paz interior, e afastando temporariamente daqueles estímulos tão desagradáveis e comuns a uma metrópole.
Só quem mora no litoral desfruta desse conjunto de fatores, que os diferencia na raiz dos residentes no interior. Caramba qual seria mesma a composição desse ar que vem do oceano, praticamente sem interferência humana? E essa chuva formada no quase intocado continente Antártico?
Apesar desse conjunto de fatores, o mar estava verde clarinho, com temperatura amena da água, ativando forte estímulo ao mergulho, porém, o vento frio que vem lá do sul inviabilizava categoricamente o desejo.
Na paisagem ao fundo, aonde a Serra da Carioca sai em busca do mar, tanto o Morro Dois Irmãos, quanto a Pedra da Gávea encontravam-se parcialmente encobertas por nuvens pesadas, após serem barradas pelo relevo alto e rochoso das duas montanhas.
Esse dia de baixa luminosidade gerava bela composição de cores à paisagem: um céu com tom de nuvens mais claras contrastava com o cinza chumbo das partes mais altas do relevo abraçada pelo verde fechado da mata preservada.
A caminhada do Posto Seis ao Jardim de Alah e sua volta, além de todos os estímulos supracitados, abriu o apetite, resolvido a tempo e hora em badalada barraca de pastéis da feira de domingo, instalado na confluência de um logradouro com a Avenida Atlântica, onde enfrentamos até fila, enquanto o barulho estridente de um carro de som propalava reivindicações políticas na orla de Copacabana.
Como valorizo este tipo de programação, que estimula o corpo e a mente, principalmente nesses dias marcados por pouco sol e muitas nuvens, que inibe muita gente a sair de casa, tornando mais introspectivo, esse momento único de muita calma a beira mar.