A imensa contemporaneidade do anjo pornográfico. Nelson Rodrigues portador de tantas frases e assertivas contundentes que revelava o mais íntimo da natureza humana. Foi um dos mais relevantes dramaturgo do século XX, tanto que apontou para o lado mais sombrio e renegado do ser humano. Nelson Rodrigues transpôs com sabedoria toda a fase da história do país, como revelação sobre a sociedade brasileira e contando sobre a cultura brasileira e as relações sociais tão comuns e incompreendidas.
Nelson Rodrigues foi um comunicador de excelência explícita e também foi erudito e popular. Questionou publicamente sobre os dramas mais vívidos, trouxe os estágios o da fantasia, da memória e das tragédias. As suas crônicas sobre futebol abordavam a metáfora para discutir as relações dentro da sociedade brasileira e, por vezes, ao desagradar algum torcedor diante elogios exagerados ou até pelos adjetivos irônicos e sagazes. Considerava o futebol brasileiro um símbolo da identidade e união nacional e criticava com veemência os seus colegas de esporte nas redações dos jornais.
Nelson, mesmo doente, não deixava de trabalhar compulsivamente e dissecou a alma brasileria, de forma muito peculiar e, para muitos de seus críticos, de modo questionável e carregado de tons e semitons. Foi único, foi o melhor personagem de si mesmo.

Foi dele a expressão redentora quando ocorrer a vitória da Seleção Brasileira na Copa de Mundo de 1958 ao afirma que o pais estava abandonando o seu "complexo de vira-latas". Nesses tempos de pandemia, de negacionismos e terrasplanistas, quando estamos às voltas com tantas questões incômodas e complexas, a vida continua a exigir do sujeito consciência e menor ignorância. 

A primorosa biografia do jornalista Ruy Castro sobre Nelson Rodrigues intitulada "O anjo pornográfico. A vida de Nelson Rodrigues" é uma obra que retratou fielmente a vida e a produção literária de um grande cronista, dramturgo, ensaísta e pensador brasileiro. Apesar de ter sido politicamente conservador, fora extremamente revolucionário. Foi o criador de inúmeros apelidos que ficaram para a posteridade, como o rei Pelé, Garrincha o anjo das pernas tortas, Didi o príncipe etíope, Amarildo o possesso, Zagalo o formiguinha de ouro, Leônidas o diamante negro, entre outros.
Não deixava por menos e construiu uma frase que ficou célebre, posteriormente, usada por muitos: toda unanimidade é burra. E, outras como: "Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam."
"Sou reacionário. Minha reação é contra tudo que não presta."
"Entre o psicanalista e o doente, o mais perigoso é o psicanalista."
"Toda mulher bonita é um pouco a namorada lésbica de si mesma." 
"Não se apresse em perdoar. A misericórdia também corrompe."
"O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: — o da imaturidade."
"Não há admiração mais deliciosa do que a do inimigo."
"O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda." 
"Todo amor é eterno e, se acaba, não era amor."
"A vida é a arte de não fazer favores. Nada ofende mais do que o benefício, nada agride mais do que o favor."
" As feministas querem reduzir a mulher a um macho mal-acabado."
"Dinheiro compra tudo. Até amor verdadeiro." 
"Invejo a burrice, porque é eterna."
"O brasileiro é um feriado." 
"Na vida, o importante é fracassar."

E, por fim, a assertiva que é tão atual: "Os idiotas vão tomar conta do mundo não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos." 

No próximo dia 21 de dezembro, fará quarenta e três anos de morto. A peça "A Serpente", de Nelson Rodrigues, fez curta temporada no Rio. A última peça escrita pelo dramaturgo, em 1978, conta a história de uma mulher que se apaixona pelo cunhado depois de passar uma noite com ele, com o consentimento da irmã. E, aí as duas mulheres começaram a disputar o mesmo homem.

Nelson jamais teve problemas em escrever sobre a morte que sempre esteve presente, jamais se esquivou de encará-la fosse em crônicas, contas, peças teatrais ou entrevista. Afinal, a morte é um lento suave, maravilhoso processo. Todo sujeito começou a morrer, apenas não sabe ou percebe. Houve uma crônica foi publicada em 2 de dezembro e, dezoito dias depois, Nelson morreria: “A maior dignidade da morte é física. Nunca o homem é tão belo como quando está morto”, escreveu Nelson: “Porque tem então assegurada a eternidade, é na morte que o homem tem o seu rosto verdadeiro. Na vida, usamos máscaras sucessivas e contraditórias. Só a morte revela a nossa verdadeira face”.


Obs: A fotografia ilustrativa exige a menção ao Arquivo Público do Estado SP como detentor do acervo e o crédito ao autor.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 17/12/2023
Reeditado em 17/12/2023
Código do texto: T7956233
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