Now à deriva

Olho para trás. Estou procurando pelo Passado. Nada dele se parece normal em comparação ao Presente. Eu poderia me aprofundar nessa descrição comparativa, citando uma enorme gama de elementos divergentes, mas...

(...)

Seria curioso ver todos os nossos entes queridos finados vivos nos Natais e Fins de Ano reunidos com a gente. Junto com os vivos que não estão próximos. Se não coubesse tanta gente na Casa da Tia Marlene, a gente daria um jeito de ir à Casa da Tia Dirce ou alugaria um galpão de festas. Todos reunidos num momento de beleza quântica (ou seja, que dura muito pouco – mas o suficiente para os dias 24, 25 e 31 de dezembro de todos os anos). Eu não permito à realidade que faça estragos em meu texto. Esse maldito ano de 2023 ceifou muitas vidas. Isso dói demais em mim. Onde meus pés não podem ir* minha mente vai. E alcança alturas impossíveis**.

Por N vezes eu atravessei os Oceanos de meu mundo. Ora a nado, levando anos, ora caminhando, consumindo alguns segundos... E agora estou aqui, de volta. Ao mesmo lugar, mesmo ponto no Cosmos, onde sempre estive: dentro de meu coração. Sondando as passagens sombrias que porventura me apontam o equilíbrio entre a Luz e a Escuridão. Falta tão pouco para nada... Desculpem.

NOTAS

* Tentei fazer uma alusão a uma canção da moda (um som de louvor cristão; apesar de eu não ser cristão e de não apoiar nenhuma religião, a canção em si [e devo admitir que a letra não fica atrás...] soa a mim como um calmante à alma). Acho que posso explicar isso porque, antes de optarmos por aderir a um credo ou descrença, carregamos os mesmos anseios. A criança pode nascer no meio da sujeira, da lama etc. ou em berço de ouro. Isso não importa nada. A gente tem os mesmos sentimentos, compartilha os mesmos anseios... Até que a criação molda nossa educação e pode afetar nossa índole. E mesmo em sua fase adulta, o ateu e o religioso terão inúmeros pontos em comum. Traços humanos – demasiado humanos. Medos, desejos, anseios, lágrimas, sorrisos, vontade de ficar mais um pouco ("por favor, não vá": queria ouvir isso de Você agora...).

** Note-se uma alusão a um trecho do clássico "Alívio Imediato", dos Engenheiros do Havaí (1989): "a noite cai de alturas impossíveis e quebra o silêncio e parte o coração".