O SR. ME DÁ UMA CARONA?

Nos últimos tempos, tenho ido a Capão da Canoa de ônibus. Isto favorece a minha pretensão de todos os dias, quando possível, caminhar um pouco.

Então, para ir a Capão eu caminho ,da minha casa na rua do Girassol, até a parada do Ônibus que fica na Av. Bem- te-Vi, em Capão Novo.

Para pegar o ônibus ando coisa de umas seis quadras de distância. E, quando desço nas paradas estabelecidas em Capão da Canoa, vou caminhando até os meus destinos o que me rende, também, alguns bons passos aumentando, assim, a minha resistência e minha condição física.

Hoje tomei o ônibus, sentei-me e fui olhando o movimento nas e nas casas de comercio da Av. Paraguassu, coisa que se eu for de carro é impossível.

Em uma parada quase perto da Casa de Cultura entrou uma senhora de meia e idade e, dirigindo-se ao motorista disse-lhe: O senhor me da uma carona por favor, pois eu não recebi o salário, ainda, e tenho que ir para o trabalho e não tenho cinco reais para lhe pagar a passagem.

Como estava nos primeiros assentos, olhei para o motorista e fiz-lhe um sinal de positivo com o dedo polegar ao que ele me perguntou: O Sr. tem cartão poderia passar para a senhora?

- Claro que sim lhe disse e passei o cartão que, como eu já tinha usado para entrar no Ônibus e como não é permitido passar duas vezes no mesmo carro, não foi aceito.

O motorista explicou-me isto e a senhora ao ouvir baixou a cabeça e esboçou um gesto de muita tristeza e começou a chorar.

Ouvi à minha esquerda uma voz que disse: Fique tranquilo senhor, eu pago passagem para ela.

A voz veio da boca de um senhor já de idade, bastante gordo que vestia uma camisa do Grêmio Futebol Porto Alegrense.

Passou-me uma nota de dez que eu entreguei para a senhora a qual, imediatamente, a passou para o motorista que lhe deu o troco de cinco reais e liberou a roleta.

Ao passar a roleta dirigiu-se ao senhor que, pela aparência era um trabalhador, e entregou-lhe os cinco reais.

O Senhor olhou-a nos olhos e devolveu-lhe a nota dizendo fique para a volta.

Ela disse que não precisava, mas ele foi taxativo e firme, dizendo: Fique, nunca se sabe o que pode acontecer.

Aprumou-se no banco e deu por encerrada a conversa.

A senhora agradeceu-lhe e se derramou , agora, em grande pranto e, caminhando até ao fundo do ônibus, e encontrou um lugar para sentar-se.

Baixei a cabeça para que ninguém visse as minhas lágrimas e fiquei meditando que esta viagem de ônibus além de me proporcionar o exercício da caminhada tinha me mostrado o grande grau de solidariedade que existe no povo de Capão Novo, de Capão da Canoa, do Rio Grande do Sul e do Brasil.

É só aparecer oportunidade para exercê-la que surgem as almas solidárias para estenderem as mãos aos necessitados mesmo que desconhecidos.

Isto me leva a conclusão de que como o nosso povo é bom e é composto por homens e mulheres , mesmo os mais pobres, que trazem dentro do peito e da alma a essência da fraternidade.

Deu-me a certeza, também, que a senhora que recebeu ajuda, não terá dúvidas em estender sua mão e oferecer o necessário para suprir a necessidade de quem está ao seu redor pedindo socorro.

Cheguei, em casa e fiquei convicto que vou andar mais de ônibus para que me seja possibilitado presenciar cenas como estas que me fizeram muito bem para minha alma e fortificaram a crença na capacidade de o Ser Humano, de uma maneira geral, expressar seus melhores sentimentos provando que os malfeitores, os maus, os insensíveis são a minoria e que na linha do tempo serão transformados à vista do procedimento ,da conduta e do exemplo dos que são bons, fraternos e solidários.

(Recanto da Ana e do Erner 14/12/23- Capão Novo)

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 15/12/2023
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