AS ESTRELAS DE DONA IZAURA

AS ESTRELAS DE DONA ISAURA

da série:

Memórias de minha rua

(pequenas crônicas de natal)

12 de dezembro/2013

Noite iluminada varrida de ventos.

Um copo descartável ,aos pinotes, vai e vem num pequeno trecho de minha rua.

Observo-lhe na incerteza de seu rumo e as acácias da rua Espírito Santo embriagam-me sem piedade.

A lua cheia , deslumbrante, é um convite a uivos .Trancafio na jaula do peito o lobo que me arranha a garganta.

[ Que uive,este invasor, pelos labirintos de minhas florestas interiores ]

Um avião noturno cruza o céu envolvido entre constelações. Acompanho aquela luzinha colorida que vai aos poucos se perdendo de meu campo de visão .

O vento assobia pianíssimo sobre as calhas e estrelas evocam-me lembranças.

Vó Isaura com sua alma poética nos ensinara, à mim e meus primos, a doçura de divisar estrelas.

Eram os céus do "Irati velho" dos anos cinquenta,sessenta...Num tempo de lampiões , quando as estrelas supriam nossas carências aproximando-se das soleiras de janelas e portas.

O casarão antigo de vovó,desafiava luares em noites de dezembro e aquela voz branda nos falava de luzes que diferenciavam-se.

- Olhem ali!...Naquela direção.Dizia apontando o dedo para os lados da escolinha.

É a estrela de Belém !

Aquela que conduziu os reis magos à gruta onde nasceu "o menino".

Ela é especial, seu brilho sobrepõe-se às demais, só aparece em dezembro,anunciando o natal e depois recolhe-se até que novo ciclo se cumpra.

Entre os pés de tunas e laranjeiras, acalentávamos sonhos de criança procriados nas considerações místicas de dona Isaura.

O tempo correu , as lembranças ficaram e agora...

Por instantes, percebo-me à procura daquela estrela do tempo espiada da janela no velho casarão.

Sondo além dos quintais da vizinhança e a noite me oferece tão somente perfis de hastes adormecidas entre muros e cercas.

No entanto, lá ! Na direção da antiga olaria ,um pouco acima das hastes ela me acena.

Brilhante, diferente, sobreposta à todas as outras.

É ela ! Reflito com meus botões.

A estrela de Belém,a mesma que nos tocava em dezembros longínquos.

A estrela de vó Isaura. A estrela dos Magos...

Subitamente me dou conta deste saudosismo incorrigível nesta noite de pura magia.

A voz da razão, então, murmura em meus ouvidos:

Calma ! Se não for nada disso,que tenha sido válida a viagem no tempo e que esta estrela de dona Isaura, evoque natais nos corações de todos os homens .

Em silêncio vislumbro o manto celeste borrifado de estrelas.

As acácias da Espírito Santo, destilam cheiros sobre minhas divagações e o vento prende nas calhas, recados de mundos que desconheço.

Então... Mais um natal impõe-se numa encantadora espera.

IRATIENSE THUTO TEIXEIRA
Enviado por IRATIENSE THUTO TEIXEIRA em 14/12/2023
Código do texto: T7953724
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