UMA NOITE MUITO ESPECIAL

Final da tarde de sábado, a chuva fina e persistente aliada à baixa temperatura inibia qualquer programação fora de casa.

Atendendo ao convite de uma querida amiga, encaramos a intempérie, e partimos para a festa de pessoas especiais, afinal, este foi o mote para voltarmos a nos encontrar, nós que já estivemos tão próximos, mas que agora, por motivos diversos, passamos a nos ver com menor frequência.

Viúva, um filho com sérios problemas mentais e físicos, ela ao longo dos anos se transformou numa leoa na defesa da cria. Esse empenho, o apoio da família e das diversas terapias, vem alongando a permanência do Mário entre nós, esse ano ele atingiu a marca de 29 anos, como uma pessoa rica em alegria e musicalidade.

A ansiedade faz parte de suas características, e não se faz de rogado. Atento, encostado no guarda corpo do jirau, logo nos identificou. Partiu em espontânea velocidade ao nosso encontro. Ele realmente aprendeu como poucos, transmitir seu turbilhão de sentimentos.

Essa cena foi repetida, assim que identificava a aproximação de algum professor, muito me impressionou o carinho, que estes profissionais dedicam a esses alunos, pra lá de especiais.

A festa, por incrível que pareça, não era de nenhum deles, mas da psicóloga e coordenadora do grupo. Numa mesa ela concentrou seus pais e o namorado, as demais contavam com a presença de um Down, acompanhado por parentes, ou amigos, como nosso caso.

O entrosamento entre esses profissionais e seus clientes deveria sim, servir de modelo para outras profissões. O engajamento ficou ainda mais completo, quando no andar de baixo, um músico soltou os primeiros acordes de seu violão.

Em pouco tempo, a festa efetivamente começou, todos dançavam e soltavam a voz. O músico sentiu o clima, até porque no ambiente térreo, o público não estava dando muita bola para sua apresentação.

Depois de algumas sofrências cantadas em coro com o grupo, o musicista passou a solicitar a preferência do animado grupo. Aí, então que a festa bombou, mesas precisaram ser afastadas, para ampliar o espaço, e assim permitir performances dos empolgados dançarinos.

Fazia muito tempo mesmo, que não presenciava um momento tão harmônico, propiciado principalmente pela obstinação desses profissionais, que embarcam na vibe desses adultos muito especiais.

Quando parti, por volta das 22 horas, senti que o cansaço já estava estampado na fisionomia dos dançarinos especiais, e todos aguardavam que o músico começasse o parabéns pra você, para juntos soprar a velinha e partilhar o bolo.

Fico imaginando que depois da partida do grupo, esses profissionais devem dar início a outra parte da festa, sem o turbilhão de emoções proporcionado por esses clientes diferenciados.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 13/12/2023
Código do texto: T7952969
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