Entre merthiolate e luzes de Natal
Lembrei de um tempo bom, de tentar adivinhar os desenhos que se formavam nas nuvens. Dos mais variados tipos. E também de acreditar que a Lua estava bem perto.
Época boa de sonhar acordada. De ter sonhos e eles serem possíveis. Mesmo sonhar em ser bailarina num dia e no outro astronauta.
Como o tempo passa rápido e como a vida atropela às vezes e na hora a gente nem sente tanto. Depois vem dor para todo canto e a gente começa uma busca sem fim por uma cura, que talvez nem exista por completo. Ou não seja como imaginamos. Uma cura romantizada, como esparadrapo e merthiolate no joelho. Era um aconchego quando minha avó dizia que ardia mas que ia passar, que era para meu bem.
Ah, que saudade de aconchego de vó.
Saudade de alguém que acredita que a dor passa e que a gente tem força para suportar.
Mas que isso, gente que acredita na gente, que dá a mão, que suporta nosso choro.
Daqui para frente é se acostumar com despedidas, com ciclos que encerram, com coisas que caem, com pessoas que vão embora.
Mas não é apenas pessimismo.
Têm sempre sonhos adormecidos que vira e mexe acendem como luzes de Natal. E abra-se um portal para um mundo novo, com novas possibilidades. A esperança repousa confortavelmente num canto suave do coração da gente, preservado a duras penas. Enfim, o tempo da renovação. E não aceitar que as dores mesmo que não totalmente amenizadas, podem também ficar para trás, é um desperdício imenso de tempo.
Essa criança encantada com os astros e que tinha um futuro brilhante pela frente, espera ansiosamente que a gente entenda isso