Amor ao Amor.

Amor ao Amor

No emaranhado de violência, ódio e traições diárias, cada homem medíocre surge como um exército autorreferente, que é capaz de suprir, por si só, todas as necessidades e valências para a instalação do caos em um único dia.

As mortes que se noticiam no jornal, costumeiramente, encontram o ápice de sua crueldade quando cometidas por aqueles que proclamam ferozmente contra ela.

Neste teatro absurdo, testemunhamos o máximo do ódio nos que pregam o amor, a culminância da guerra naqueles que advogam pela paz. Os que se tornam arautos de Deus são, de fato, os que mais necessitam Dele. Os apóstolos da paz, por sua vez, são desprovidos dela, assim como do amor que tanto enaltecem.

Desconfiemos dos pregadores, dos sábios autoproclamados, dos devotados leitores de incontáveis páginas. O adjetivo que lhes agrada é o pré-concebido. O conhecimento que lhe satisfaz é o já conhecido, ratificado, e validado pelos astros que lhe orbitam.

Sejamos cautelosos com aqueles que são rápidos em elogiar, porque buscam, no fundo, louvores em troca. A censura apressada revela um temor do desconhecido, e temendo a ignorância, tornam-se cada vez mais propensos a sê-la.

Quem busca a multidão, foge da solidão. E o amor desse tipo de gente merece se atenção, nem que seja por advertência, pois o amor medíocre, de todas as fraquezas humanas, é perigosa, letal, como veneno.

Porque, o amor medíocre é mais próximo do ódio do que se espera. E este ódio destilado como a mais fina arte, possui o poder de aniquilar qualquer um que ouse discordar de sua forma (vazia e disforme) de ser.

Ao renegar a solidão e não compreendê-la, quem ama amar se lança em uma busca incessante pela destruição daquilo que difere de sua própria mediocridade, e se apressa a criticar, apontando aquilo que é seu erro como criador-de-vida, como um defeito intrínseco do mundo, de Deus. Uma vítima do acaso.

Diante da incapacidade de amar plenamente, julga e odeia, transformando sua própria insuficiência em uma justificativa para o desdém. Seu ódio, assim, torna-se perfeito, brilhando como um diamante na escuridão da sua incompletude, uma força singular que destrói tudo que com ele não se parece.

Mas, no amor de quem ama amar, o que mais existe além de si?