A IGNORÂNCIA CONTAGIA

Vivemos hoje um momento em que efetivamente ninguém mais escreve nada, e isso se reflete inclusive na hora de assinar seu próprio nome em determinado documento, o que muitas vezes antes eram garranchos, evoluíram para uma ortografia diretamente associada aos profissionais da saúde.

Hoje, pessoas, independente da profissão, ideologia ou qualquer outra dimensão que você imagine, para tudo teclam, chegamos ao limite do absurdo, digitando até conversas ao celular, ou simplificando ainda mais, gravamos mensagens, provavelmente com a desculpa esfarrapada de não querer interferir na vida de ninguém, mesmo com aqueles que deveríamos levar um papo descontraído, como amigos ou parentes. Enviamos mensagens com sempre com a melhor das intenções, que supostamente poderão posteriormente ser lidas, ou não, e claro, se despertarem algum interesse, respondidas.

Se paciência com a escrita chegou nesse patamar, imagine a leitura então, nem se fala, ou melhor, nem se lê mais de uma página, agora, parece que foi definitivamente institucionalizada a lei do Twitter, norma esta que limitava até recentemente textos a restritos 140 caracteres, exceção feita para algumas línguas orientais, devido a suas particularidades.

Se antes encarar um calhamaço de mais de quinhentas páginas inibia até mesmo leitores regulares, nesse momento, quaisquer cinco laudas tornaram-se empecilho até para muita gente supostamente letrada. A preguiça literária acaba por gerar contagiosa epidemia da ignorância, que infelizmente teria até vacina, não fosse o descaso com a educação de base, que propicia a proliferação desse vírus, atacando prioritariamente a população carente, ou seja, aquela maioria que depende da educação pública.

Fico imaginando o nível de frustração desse grupo de pessoas que optou por difundir conhecimento específico sobre algum produto industrial. Você deve lembrar a dificuldade de se entender o que manuais pretendiam informar. Passou o tempo de aparelhos simples, pois as funcionalidades dos equipamentos atuais, independente de seu tamanho, ou seja, de um celular a um automóvel, crescem na mesma velocidade da atual produção de conhecimento, pela via da informação.

Outro dia, em divagações, tentei lembrar a última vez que me dei ao trabalho de encarar um desses instrutivos. Posso afirmar com todas as letras, esta foi sem dúvida uma daquelas buscas que terminam em frustração. Isso pode ainda piorar, quando te relembra que o português não faz parte das supostas línguas internacionalizadas.

Recentemente, numa exposição no Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB me peguei acompanhando o caminhar até certo ponto apresado das pessoas a minha volta, na mostra de arte. Praticamente ninguém tenta ler os textos impressos nas paredes, que estão ali, para de alguma explicar a inspiração, ou mesmo o histórico, que posteriormente resultou na produção das obras expostas.

A síndrome aguda do descarte também estava ali, presente no movimento, bem diante dos meus olhos, a impaciência estava estampada nas expressões, que aliada à velocidade dos passos impressa diante das obras, evidenciava que o tempo urge mesmo neste grupo que optou por visitar uma das exposições em cartaz.

Outra particularidade destes novos tempos é a visão retangular do mundo, pois tudo passou a ser visto pela iluminada tela dos celulares. Da foto, ao envio para possíveis seguidores, tudo se realiza num simples teclar na tela do smartfone.

Seria essa uma síndrome do tentar ver tudo, ou talvez a busca por um verniz intelectual, para quem sabe, utilizar o pouco que conseguiu adquirir, para assim impressionar o interlocutor de uma conversa posterior.

Deve ser doloroso para a cabeça dessas pessoas, essa busca sem fim ou parâmetros, em uma cidade que pulsa cultura, e por isso mesmo, deveria propiciar a sua população, uma melhor relação com o conhecimento, desde as mais tenras idades.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 12/12/2023
Código do texto: T7952320
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