A enchente.

Certo dia um professor me falou:

"_ Não olhe para trás!"

Precisei está preparado para escrever; e então, vamos lá!

No dia 11 de dezembro de 2021, tivemos uma madrugada atípica. No horário em que os sonhos e as fantasias cruzam-se e carregam as nossas mentes com esperança e regozijo ou espanto e apreensão, o destino prepara um curso diferente, surpreendente.

Morávamos numa casa, casa do senhor Rafael, composta por uma sala, dois quartos; um deles, o menor, utilizávamos como escritório, onde ficavam uma mesa com o computador, livros e outros acessórios; uma suíte, cozinha, área de serviço. Uma garagem, quintal e muita alegria.

Após uma noite normal, nos recolhemos para dormir; a lâmpada da cozinha estava acesa e as crianças já dormiam, Emanuelly e Renata, no quarto de fora, o mais novo, em nossa cama, comigo e Alessandra, a mãe, o qual dormia e mamava, dormia e mamava. Me refiro a Heittor; e guardem esse nome!

Na referida madrugada, acordei num susto: um barulho de batida e, senti como se Heittor tivesse caído da cama no chão. De um salto, fui até a parte posterior da cama! Como não o avistei, perguntei a mãe:

_ Cadê Heittor?!

_ Tá aqui.

_ Achei que ele tivesse caído!

_ Não, ele só bateu a cabeça na parede!

Nesse momento, Alessandra foi ao banheiro social e ouviu barulho de água e pessoas conversando. Ao chegar no quarto, ela me perguntou:

_ Quando o rio enche, a água daquele riacho chega aqui?

_ Se você está dizendo que a água está ali, então temos que sair daqui!

Levantei, saí do quarto e, ao olhar do portão da varanda, um vizinho já retirava sua pick up da garagem, ao lado da casa que morávamos.

Fui até a ponte onde o riacho passava, para olhar, ainda meio sem fé; não acreditava que aquele riacho enchesse a ponto de nos causar espanto. Mas para minha surpresa as águas que desceram no curso do rio, entraram no acesso do riacho, que desaguava no rio, com um volume de água tão grande que o "riachinho" tomou corpo e a frente de duas casas, isolando seus moradores. Nesse momento, a visão já era assustadora, foi então que voltei correndo:

_ Pega os meninos e vamos embora agora! Falei já quase gritando.

Fui verificar a porta da cozinha e, as águas estavam a um degrau de invadir por ali; o quarto onde dormimos, Alessandra, Heittor e eu, era ao lado da cozinha: imaginou se elas entrassem enquanto dormíamos, antes que nos assustássemos?

Enquanto Alessandra foi arrumar os meninos, tirei o carro da garagem e coloquei em frente de casa. Quando Renata foi colocada no carro, as águas percorreram cerca de 100 metros, forçando-me a chegar o veículo para frente, pois elas já tocavam os pneus. Assim que Heittor e Emanuelly entraram, Alessandra vinha trazendo as vestes que utilizava para ir assessorar nos eventos e as águas que entravam na garagem, já estavam na altura se seus joelhos.

Com ela a bordo, partimos com intensão de ir à casa de Neusa, sua mãe. Chegando na saída da rua da Linha, próximo ao acesso da rua principal para avenida com destino a rua da Ladeira, lembrei de que teria de desligar a energia elétrica da casa e fomos para rua da Represa, onde moravam minha mãe, irmã e sobrinhas. Lá deixei o carro, a família e retornei, gravando, para enviar para Cristiano, meu cunhado, como estava a rua:

_ Aí Cris, o bicho pegou! E continuei caminhando a fim de desligar a força. A dez metros da casa, as águas já estavam na altura de minha cintura. Peguei um gato que nadava, para colocá-lo em terra firma, porém, antes de alcançar um pequeno muro ao lado da casa, ele arranhou meus dedos e lancei-o longe; não sei o que aconteceu com ele!

E assim, entrei na casa; filmei as águas em todos os cômodos: a geladeira já estava flutuando sobre as águas, os vasos de água potável, também flutuavam de um lado para o outro. Abri a porta da cozinha e me surpreendi mais uma vez, de forma tremenda: as águas continuavam no mesmo local e as que entraram pela frente da casa saíram por ali e elas se misturaram!

Catei alguns acessórios: uma TV de 20 polegadas que ficava em nosso quarto, a TV maior que ficava na sala, computador, que não tinha terminado de pagar ainda e os coloquei sobre o forro o banheiro; uma sacola de roupas que minha esposa pegara de um atacadista para vender, a qual esqueci sobre um dos sofás, desliguei a energia da casa e saí.

Ao chegar à casa de minha mãe, lembrei: "Meus documentos pessoais!" E retornei. Com a lanterna do celular, me dirigi ao quarto onde ficavam, apanhei a caixa onde os guardava e retornei.

Quando consegui parar e falar, avisei em áudios aos colegas e a família:

_ Gente fomos atingidos pelas águas, porém o mais importante eu tenho comigo: estamos todos bem! Eu e minha família estamos bem!

As águas continuaram a subir seu nível. Ficamos de sentinela, torcendo para que recuassem.

Por volta das 4:30 da madrugada elas, as águas, começaram a baixar.

Durante o dia, fomos lavar a casa: móveis estragados foram jogados fora, roupas foram levadas por outras pessoas para serem lavadas, livros foram perdidos...

Não posso deixar de mencionar as ajudas que nos foram oferecidas por colegas de trabalho, família, amigos!

Enfim: lembram que falei que era para guardar um nome? Heittor!

Deus é bom e tão bom que usou uma criança de apenas 2 anos de idade, para nos acordar, para nos salvar!

RENATO SANTOSS
Enviado por RENATO SANTOSS em 11/12/2023
Reeditado em 24/11/2024
Código do texto: T7951932
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