Silvia Waiãpi e Marina Silva. E Venezuela x Guiana.
- Tu viste o sarrafo que a Silvia tacou na Marina?!
- Vi, ouvi, sorri. Frase de inspiração cesariana.
- Deste à luz uma frase de sabor clássico. A Silvia Waiãpi, de ascendência indígena, de qual tribo ignoro, disse umas e outras, muitas e boas, para a tal da Marina, que, parece-me, esqueceu-se da floresta amazônica.
- E não nos esqueçamos: a floresta amazônica é feminina.
- A floresta é feminina, a selva é feminina, o deserto é masculino, o cerrado é masculino.
- Além das verdades que disse para a Marina, a Silvia Waiãpi falou umas palavras bonitas, dia destes, numa oratória retumbante, em favor dos índios, dos brasileiros, enfim. Parecia, até, que ela declamava um poema do Gonçalves Dias
- Faz falta...
- Quem?!
- O Gonçalves Dias, que cantou os índios.
- Índios daqui das terras hoje chamadas Brasil. Há índios em todos os continentes.
- Deixemos de lado tal questão linguística.
- Perde-se a falar dela, mas esquece-se o mundo em que vivemos e os problemas que os índios pré-cabralinos enfrentam.
- Povos descendentes de cabras.
- Tu e teus comentários sem-noção. Em que pé estão, hoje, os índios brasileiros, tenham eles o nome que tiverem?! Vivem bem?! Mal?! Aprendem o que desejam aprender?! Querem conservá-los numa redoma, como se eles vivessem numa era anterior à construção das caravelas que singraram os setes mares, e em tal périplo enfrentaram seus tripulantes monstros marinhos e outras criaturas que nem os Argonautas ousariam enfrentar, e aportaram às nossas terras?! Por que os defensores dos índios jamais lhes perguntam o que eles desejam, o que eles querem?! Todo mundo quer ser cacique indígena. Há muitos homens brancos por aí querendo ser pajé tupinambá. Tipos branquelos, quase transparentes, vindos do norte do norte da Zoropa cobrem-se de urucum e se dizem índios. 'tá cheio de gente assim por aí. Absurdo, não?! Índios paraguaios. Os índios brasileiros são usados, e deles abusam quem os usam, por gente que deles se lembram com o propósito, o único, de lhes fazerem mal, numa guerra política e econômica que lhes redunda em prejuízo.
- Pior, até: só lhes causam dor, sofrimento, miséria.
- E estou, aqui, encasquetado com os meus botões...
- Quais botões?!
- Os que falam da Venezuela, da Guiana, da Amazônia, das nações indígenas.
- E o que tais botões te dizem?!
- Tu já ouviste falar de gente que almeja internacionalizar a Amazônia...
- E há um século eu ovo tal história.
- E eu a osso desde que me entendo por gente. 'tô, aqui, pensando, e pensando com a minha cabeça: vai que toda a história que conta uma aventura, e uma das mais bizarras, do Maduro, o amigo da mais honesta das almas brasileiras, nada mais seja do que um capítulo de uma trama das mais sórdidas.
- Aonde tu queres chegar?
- Em algum lugar. Penses comigo: há quem queira, por razões que não são nobres, arrancar ao Brasil um naco, e dos grandes, situado na fronteira norte, amazônica, e convertê-lo em uma nação independente; aí o Maduro diz que vai invadir a Guiana; alguns países apressam-se para defender a Guiana; e estoura uma guerra entre Guiana e Venezuela; e a guerra se alastra território brasileiro adentro; e Raposa Serra do Sol queima; e ou um dinamarquês, ou um sueco, ou um norueguês, coberto de barro e de urucum, e ataviado com um cocar de plástico biodegradável, diz-se índio, anuncia para o mundo a sua realeza índigena, denuncia às organizações internacionais o Brasil, que não tem recursos para proteger o norte do país; e leva-se o caso às cortes internacionais; e causa-se um reboliço dos infernos em todo o mundo mundial; e dá-se como certo que apenas uma organização supranacional tem meios de ir ao encontro dos anseios dos índios, que sofrem barbaridade, tchê; e o Brasil se ferra bonito, fica a ver navios ao ter de si arrancado um pedaço do território.
- Que viagem!
- Tu achas que 'tô viajando na maionese?!
- Sei lá eu o que acho! O mundo 'tá tão doido, que a idéia mais sem pé nem cabeça, saída da cachola de um desmiolado, talvez seja a mais sensata.
- Tu me elogiaste?!
- Sei lá!