Conto sem sentido 1
A noite estava em sua plenitude e os sons da cidade cessavam pouco a pouco. Deitado em seu velho sofá com sua barriga encaixada na cratera entre as almofadas do assento depois de tantos anos repetindo a mesma posição. Todas as luzes apagadas com exceção da TV posicionada em cima de um velho rack preto de madeira que trouxe da casa de sua mãe. A TV ligada em canal algum emitindo apenas um chiado como qualquer TV velha que já nem deveria se ter a ousadia de se ligar. O que se esperar de uma TV dessa idade? Talvez fosse o contato com a lembrança de anos de alegria de uma infância tão longínqua.
O mundo parece tão leve de tão vazio, mas a gravidade insiste em puxar seu corpo para cada vez mais fundo daquele sofá como se pesasse todos os pecados diante da justiça divina. Não há gestos, não há movimento, não há vontade. Os olhos seguem refletindo aquela luz artificial sem nenhum brilho que faça sentido. Pupilas que parecem buracos negros que sugam essa maldita luz rumo ao nada daquela existência.