Educadora por um dia.
Fui docente, ou melhor, auxiliar de uma professora amiga por um dia em um colégio público, visto que essa talvez seja a minha possível profissão, futuramente. E todo aquele espaço e os alunos eram encarados por mim sob uma espécie de estranhamento, algo novo, visto que passei a vida inteira estudando em escolas particulares, a situação é bem diferente. Estávamos nos dirigindo à saleta onde os professores se reuniam para que pudessem se organizar e também conversar. Entramos. Alguns professores acharam que eu era estagiária, mas logo foi esclarecido: “Não, não, ela é estudante de ensino médio ainda. Mas ela pretende ser professora universitária um dia”. Cumprimentaram-me educadamente e me parabenizaram. Sentamos para esperarmos o horário certo para a aplicação de provas dos alunos do sexto ano. Enquanto isso, havia uma garotinha de cabelos cacheados e olhos espertos sentada próxima a uma mesa com vários lápis coloridos, desenhando. Depois de um silencioso tempo, a minha orientadora perguntou a ela:
- Mas, que menina linda! Qual o seu nome, pequena?
Ela respondeu:
- Sophia!
- Como vai, Sophia? Quantos anos você tem?
- Tenho sete.
- Que desenho lindo esse o qual você está fazendo!
- Eu gosto de pintar e desenhar.
Depois a menininha falou de repente:
- Sabia que além disso eu sei calcular a raiz quadrada? E eu estou no segundo ano.
Fiquei surpresa com aquela afirmação súbita. Notei uma mulher rindo timidamente atrás, era a sua mãe. E claro, professora também, de matemática. Comentei:
- Nossa, você é muito inteligente, Sophia!
Ela me fitou e disse:
- Minha mãe me ensinou!
E olhou para trás apontando para ela, uma mulher de cabelos ondulados e acastanhados.
Pensei que o diálogo havia se encerrado, pois Sophia virou os olhos ao papel para continuar a desenhar. Mas depois, ainda concentrada em seus rabiscos, ela comentou:
- E eu sei filosofia também!
Os meus olhos brilharam, e não duvidei, porque é impossível não notar uma criança brilhante. Perguntei energicamente:
- É mesmo?!
Ela assentiu com a cabeça:
- Aham!
E indaguei:
- Sendo assim, você sabe o significado do seu nome em grego, Sophia?
Ela respondeu sabendo aonde eu queria chegar com o questionamento:
- Sei sim. O meu nome significa sabedoria. E “filo” é amor. Então, “filosofia” significa amor pela sabedoria.
Notei a sua mãe a observando carinhosamente. Surpreendi-me com a resposta perspicaz e falei:
- Muito bem. É isso mesmo, Sophia.
Depois ela se levantou para nos mostrar os seus desenhos e pinturas feitas de tintas e colas coloridas. Aproveitei e perguntei para ela:
- Além de pintar e desenhar, o que você mais gosta de fazer?
Ela me respondeu animadamente:
- Eu gosto de ciências. Mas também gosto de ler, pois sou uma grande leitora!
Fiquei encantada com o seu interesse genuíno. E continuei:
- Que tipo de livros você gosta?
- Gosto de histórias.
- Que tipo de histórias então?
Ela respondeu dinâmica, expressando com os braços em sinal de grandeza:
- Eu gosto de histórias grandes!
Deslumbrei-me com a resposta. E disse:
- Excelente, Sophia! Então, diga para mim uma história que você gostou muito.
Ela me respondeu:
- Eu já li e gosto de “Alice no País das Maravilhas”.
- E você já leu “Alice Através do Espelho” também?
- Sim, sim.
- Muito bem. Também já li.
Dei uma olhada para mãe dela, que prestava atenção em nossa conversa. Fiz um último comentário à Sophia dizendo:
- Você sabia que o escritor de Alice foi um matemático que nem sua mãe é?
A mãe de Sophia sorriu com o meu comentário, e depois olhou com orgulho para a sua querida filha.