Causos e casos de Jeca e Zé
Bem no fundão do sertão, onde o vento balança as palmeiras e o som do coaxar dos sapos é quase uma canção de ninar, dois caipiras, Jeca e Zé, sentavam-se na soleira da porta da casa, trocando causos e casos da vida simples deles.
Jeca, com a palha de milho entre os dentes, coçava a cabeça e começava a contar uma história que tinha ouvido falar, daquelas que fazem o riso brotar feito mato depois da chuva.
"Zé, cê já ouviu falar do cavalo branco de Napoleão?"
Zé, com um sorriso maroto, respondeu: "Já ouvi sim, Jeca. Mas cê sabe que por aqui não temos Napoleão nem cavalo branco. Só tem o seu piquira e o meu relincho, que é mais preto do que noite sem lua."
Jeca, ignorando o sarcasmo, continuou com os olhos brilhando como estrelas no céu sertanejo: "Pois é, Zé, parece que esse cavalo branco de Napoleão é uma figura lendária lá pelas bandas da França. Contam que o Napoleão, que era um cabra lá das antigas, tinha um cavalo branco que desafiava as leis da física, pulando muros e atravessando rios como quem corta manteiga quente."
Zé, coçando a barba rala, cutucou Jeca: "Mas, home, cê acredita mesmo nessa lorota de cavalo que voa?"
Jeca, com um sorriso esperto, respondeu: "Ah, Zé, quem sabe? Às vezes, é bom acreditar em umas estórias meio cabeludas, só pra dar um tempero na vida. Imagina só a gente com um cavalo desses por aqui, atravessando o riacho sem se molhar e pulando a cerca do vizinho quando precisar pegar emprestado um pouco de café."
Zé, soltando uma gargalhada, concordou: "Bom, Jeca, por aqui, o que a gente tem são os nossos causos, que são mais valiosos do que ouro. Mas, se aparecer um cavalo branco voando, eu até arrisco uns trocados pra ver isso."
E assim, entre risadas e trocas de histórias, Jeca e Zé continuaram a aproveitar a tarde, sonhando com cavalos brancos que desafiam as leis da gravidade e, quem sabe, transformando a simplicidade do sertão em um conto de fadas caipira. Afinal, no mundo deles, as lendas podem ser tão reais quanto um pé de mandioca na roça.