Hoje a “festa” é nossa
PELEJO pra ser otimista, faço até promessa, mas não consigo. Não controlo meus sentimentos. Vou ser sempre um contracorrente, um empata samba, um chato. Detalhe: minhas arengas não têm lado político. Não aceito esse clima de fantasia, nem na época das festas de fim de ano.
Não nego que até o meu entorno reclama das minhas arengas, afinal se todos estão curtindo um clima festivo quem corta esse barato é um tremendo chato. Vamos a última arenga. Precisei comprar urgente uma bombinha de asma, fui me arrastando a uma farmácia que fica nas proximidades do prédio que moro. Foi logo depois das seis da noite. Por onde passava ouvia as tevês tocando a musiquinha da Globo: “Hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa, de quem quiser..,”. Uma alegria geral. Otimismo. Bom, na volta constatei que era verdade a “festa”. Uma família, um homem esfarrapado e dois meninos estavam furando sacos de lixo procurando restos de comida. De repente um garotinho gritou eufórico: “Papi, achei. Achei um restão de pizza. Caraca, papi e tem também um pedaço de hambúrguer. Dá pra jantar. Marinha vai ficar alegre”. No salão do prédio estavam fazendo uma festinha. Todo mundo alegre. Contei o fato é recomendei acondicionar os restos para não azedar porque iam servir para a janta dos miseráveis. Subi e fui inalar a bombinha. Imagine a raiva dos que estavam na festa. Sou contracorrente. Com muito orgulho. William Porto. Inté.