NÃO PRECISAVA SER ASSIM

Na hora que ingressamos no serviço público, principalmente quem o fez ainda com pouca experiência no mercado de trabalho, tudo é novidade, afinal esse é um momento de ruptura de fases, e olha que esse novo período tem uma característica única, sua longevidade.

Agora a história é outra, bem diferente dos longos nove anos do ensino fundamental, os rápidos três do ensino médio, e em média os pouco mais de quatro de ensino superior, e quem sabe mais um ano de mestrado, todos marcados por características bem específicas, e claro, com dificuldades que vai se acumulando e que acaba por reduzir em muito, o contingente que inicialmente partiu nessa empreitada, sem saber muito bem, para onde seria levado?

O passar das duas últimas décadas tem sido carrasco com as ocupações de baixa formação, tanto no solo urbano, como nas grandes extensões rurais. A mecanização aliada à eletrônica extirpou do mercado profissões históricas e criou novas, que exige do pretendente uma carga de conhecimento incompatível com a realidade de parte significativa da população em idade ativa, e para isso não existe restrição regional, empregos desaparecem repentinamente, tanto no campo, como na cidade.

Não é para menos, um país que nunca se preocupou em levar a sério a educação de sua população, plantou o que hoje colhe um contingente de aproximadamente vinte milhões de pessoas sem espaço de inserção na sociedade, sendo ¾ de desempregadas e ¼ de desalentadas e largadas à própria sorte, e que provavelmente nunca mais conseguirão inserção no mercado formal de trabalho.

Com ou sem pandemia essa parcela da população já dependia dos programas sociais do governo, que serviam para complementar a renda auferida a duras penas, nas precárias condições oferecidas pelo mercado informal.

Os concursos para o serviço público, que sempre despertaram interesse em amplos segmentos da população, e exigiam do postulante, sólidos conhecimentos na carreira almejada praticamente cessaram nos últimos anos.

Difícil entender uma sociedade carente como a nossa, tratar com desprezo, uma classe que se dedica atender todos de forma equânime, mesmo não contando muitas vezes, com o aporte de recursos humanos e financeiro adequados para uma atenção mais integral ao cidadão.

Para exemplificar com apenas uma ação, veja o caso da educação municipal na cidade do Rio de Janeiro. Basta pensar em um número bem grande, que tal 1.453 estabelecimentos, para onde se dirigem 641 mil estudantes, que serão atendidos por um batalhão 52 mil profissionais de educação, e destes 38 mil são professores.

Agora imagine essas quase 700 mil pessoas se preparando para sair de casa, tomando transporte e ocupando seus devidos postos em 1.453 lugares diferentes. Lembre que alguns precisam chegar antes para abrir a escola, outros para dar aula, outro grupo para preparar o almoço desse significativo contingente de crianças.

Lembro que esse acontecimento não se constitui em um evento ocasional, todo dia isso se repete, e o mais importante, consagrando um congraçamento perfeito das famílias com a escola.

Uma referência sempre elucida fatos e serve para dar a devida dimensão desse fenômeno de migração interna. Temos que a Secretaria de Educação da Cidade do Rio de Janeiro responde sozinha por 10,3% dos deslocamentos de moradores, mesmo sem levar em conta, que alunos mais novos dependem da companhia de algum responsável para chegar e sair da escola.

E olha, que nem toquei no fato de que outras secretarias, como Saúde, Assistência Social, Urbanismo e Fazenda, se somadas podem envolver um contingente a altura, ou até mesmo superior ao levantado para o setor educação.

E o fato mais interessante, e ao mesmo tempo desolador a ser constatado, trata-se da ignorância das pessoas em relação a quem lhe presta o serviço. Mesmo sendo este o ente com menor participação no imposto total pago direta ou indiretamente pelo contribuinte, sem dúvida, se constitui naquele com maior gama de serviços prestados ou disponibilizados entre as três esferas de governo.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 07/12/2023
Código do texto: T7948762
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