LUCINERGES COUTO - A LUTA POR UM IDEAL

LUCINERGES COUTO - A LUTA POR UM IDEAL

"... o ideal que (sempre) nos acalentou /

renascerá / em outros corações".

"LUZES DA RIBALTA" (trecho)

Quando recebi -- lá por 1990 e poucos -- o epíteto de "agitador cultural" não gostei nem um pouco, o termo tinha uma "carga de PTismo", "cheiro" de baderna, de quem só faz confusão. Daí pensei que, para título destas memórias, seria mais correto definir Lucinerges Couto como "ativista cultural". Não ficou melhor, ativismo é qualquer coisa, quem faz palavras cruzadas em seu quarto ou quem distribui folhetos (nas ruas) de cursinhos, de creches ou eventos de lazer -- como bingos, shows musicais em balneários, concursos de "Misses", etc -- com algum verniz de Cultura. Contudo, na época em que Lucinerges sustentou quase sozinho -- com Ramon Stergman, no outro extremo, no Teatro local -- imensa batalha a fim de que Ananindeua tivesse alguma atividade realmente cultural, a "geografia" do município não contribuiu para que se visse tal movimento como sendo... de Ananindeua.

Explico melhor: o distante bairro com o estranho nome de "Guanabara" -- embora cariocas e sulistas não fossem bem vistos na época -- e que se situava no KM 0 da BR-316 pertencia a Ananindeua... já os 9 Conjuntos habitacionais (na realidade só 4 ou 5) batizados de Cidade Nova e no KM 4 da mesma Rodovia eram tidos e havidos como... "de Belém", até o IPTU anual do casario vinha de lá. Em 1994/95 os vereadores (da Capital, claro) deram um "BASTA" na confusão. Porém, Lucinerges cansara de batalhar para que este "cemitério da Cultura" (termo usado por mim, discretamente) tivesse vida cultural digna desse nome e "fôra cantar em outra freguesia", a Biblioteca Avertano Rocha, lá em Icoaraci... mas isso é outra história !

Certamente conheci Lucinerges trabalhando como revisor na IOE - Imprensa Oficial do Estado, num Depto sob a direção do poeta José Ildone, que me conheceu na Vigia (de onde foi prefeito)... e eu a ele. Além de ser meu incentivador de primeira hora (1984/85), o poeta maior da Cultura vigilenga aceitou meus versos de "sambinhas" despretensiosos e os publicou no "Suplemento Cultural" da IOE, editado junto com o D.O. mensalmente. Cabia a Lucinerges Couto a revisão e, portanto, ele recebia os originais. "Professor Ildone" (eu o chamava assim) me presenteou com obras de autores locais -- CRONISTAS, todos eles "de Belém" -- que me apontaram o caminho a seguir: CONTAR o que estava vendo e vivendo... e foi o que fiz ! Morando já na Cidade Nova, "dormitório de Belém", como diziam, visitei a Imprensa diversas vezes, fui apresentado ao pessoal da APE - Assoc. Paraense de Escritores e, nela, iniciei minha "carreira de agitador" (?!) mais preocupado em criticar do que em construir. Nesse ínterim já estamos em 1988 e Lucinerges "me convoca" para suas andanças "literárias" de casa em casa, tinha ele o endereço de todo mundo... me apresentava como escritor, eu que só possuía letras de música, que "passa perto" de ser Poesia, embora quase nunca o seja.

Demorei ano e meio para perceber que O SONHO dele era a construção de um Grupo de peso ligado a Literatura e representando Ananindeua, logo, de moradores daqui. Num trabalho de formiguinha nos reuniu, aos sábados, na Biblioteca municipal (ao lado da Feira, em 1988, graças ao Raulino Silva) e vez ou outra em alguma EP, escola local. Fomos até Marituba -- distrito da cidade -- e estivemos NUM BAR perto dali, numa sexta-feira de noite, para total espanto do dono dele. Juntaram-se duas mesas e tomamos apenas 1 garrafa grande de refrigerante, "rachada" entre todos.

Dos 8 ou 10 abnegados do "Grupo de Amigos Especiais de Ananindeua" (1989) Lucinerges partiu para um projeto maior: reuniu entre 20 e 25 literatos ou amantes da Cultura em 1991, surgindo daí a ALA-A - Assoc. de Letras e Artes... de Ananindeua, claro ! Os objetivos culturais se perderam durante os 5 ou 6 meses que durou a "construção" do tal Regulamento. O grupo se dispersou e, ano e meio depois, ouço falar de Lucinerges Couto atuando... em Icoaraci ! Por lá, outra Associação literária, nascendo com o equivocado nome de APIL, marca de caixa de ovos, na época. Eu me afastara de Lucinerges, o achava "meio tantã", aquela persistência toda me irritava... pura inveja !

Eis o resultado, 20 e tantos ANOS depois: a hoje APLI - Academia Paraense Literária Interiorana está perto de completar 3 DÉCADAS e nossa ALANIN - Academia de Letras de Ananindeua fechando ano e meio de representação real da Cultura local. Naquela época, já "órfãos de Lucinerges", o poeta e escritor "Eron" Carvalho uniu-se a um certo Anestor, ao compositor Yvan Costa e a mim e tentamos -- sem a garra nem a vontade de L.C. -- levar avante nas escolas do Centro ananin os IDEAIS e objetivos que sempre nortearam Lucinerges. Estranhamente, os escritos dele nunca vieram a lume... preferia divulgar as obras alheias e evitava até ser fotografado, postava-se bem atrás do grupo. Nos falta CORRIGIR imensa injustiça: ter uma escola local com o nome de Lucinerges Couto... pelo menos 1 saleta, quem sabe a Secretaria de uma delas, afinal ele foi o PIONEIRO inconteste dos movimentos literários ananins.

"NATO" AZEVEDO (em 3/dez. 2023, 01,30hs)