SIMBOLISMO E PARNASIANISMO

DA COSTA E SILVA, UM SIMBOLISTA

Nelson Marzullo Tangerini

Eis que nos deixa o escritor, Acadêmico e africanólogo Alberto da Costa e Silva, filho do poeta simbolista Da Costa e Silva. Justamente quando a cultura recobra sentido e o Brasil africano se agiganta e retoma fôlego, após quatro anos – difíceis – de desgoverno, de negacionismo, de propaganda armamentista e de total desprezo e descaso com a cultura.

Durante toda a vida, Alberto dedicou-se à cultura africana e à preservação da obra e da memória de seu pai, poeta aqui citado. Republicou os livros do pai, fazendo com que este figurasse ao lado de outros poetas simbolistas brasileiros como Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens.

Aqui publicamos um dos sonetos de Da Costa e Silva:

"Saudade

Saudade! Olhar de minha mãe rezando,

E o pranto lento deslizando em fio…

Saudade! Amor de minha terra… O rio...

Cantigas de águas claras soluçando.

Noites de junho… O caboré com frio,

Ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando…

E, ao vento, as folhas lívidas cantando

A saudade imortal de um sol de estio.

Saudade! Asa de dor do pensamento!

Gemidos vãos de canaviais ao vento…

As mortalhas de névoa sobre a serra…

Saudade! O Parnaíba – velho monge

As barbas brancas alongando… E, ao longe,

O mugido dos bois da minha terra…"

Durante todos esses anos, tenho também republicado crônicas e sonetos (líricos e satíricos) de Nestor Tangerini, meu pai, num esforço de deixar para os pósteros a existência da poesia da Segunda Geração Parnasiana – ou Resistência Parnasiana -, ignorada pela crítica literária contaminada, ainda, pelo evento da Semana de Arte Moderna de 1922, quando a turba modernista tentava demolir o duro edifício parnasiano.

A luta é grande. E é grande o número de poetas que optaram por não seguir a corrente modernista.

Nestor Tangerini, Luiz Leitão, Renê Medeiros, Olavo Bastos, Apollo Martins, entre outros (poetas do Café Paris, de Niterói, RJ, Anos 1920), agitavam os salões do referido estabelecimento, mostrando que os sonetos podiam ser escritos, mesmo depois da guerra deflagrada pelos modernistas aos deuses gregos que inspiravam os sonetistas.

E por um longo período, outros poetas, Bastos Tigre e Maurício Marzullo, por exemplo, continuariam acreditando na escrita de formato parnasiano.

Vinícius de Moraes, o nosso “Poetinha”, que nos deixou inúmeras canções históricas, com diversos “parceirinhos”, apesar de influenciado pelos modernistas, mostrava, quase sempre, a sua habilidade como sonetista.

Foi infrutífera, portanto, a tentativa de os modernistas implodirem os templos gregos, ou, mais precisamente, os sonetos do poeta fluminense Alberto de Oliveira ou o romance do romântico – e também fluminense – Joaquim Manuel de Macedo, autor de “A moreninha”.

Muitas vezes – e este foi o meu caso – o memorialista se tornou um “passadista” (termo usado por Mário de Andrade) ou um chato que vive a reprisar um passado que não pode mais voltar.

Não pode mais voltar? Não pode mais voltar, mas pode ser guardado nas bibliotecas - da história de literatura brasileira ou lusófona, para sermos objetivos. Nestor Tangerini e Luiz Leitão, herdeiros legítimos dos sonetistas satíricos da língua portuguesa merecem destaque, sem que isto seja chamado de saudosismo.

Trazer de volta a obra dos poetas ou escritores esquecidos – ou silenciados – é uma forma de oxigenar a literatura.

Volta e meia nos deparamos com textos inéditos e magníficos de Machado de Assis, esse tão vasto escritor, que foi além do romancista, uma vez que foi contista, cronista, poeta e escritor teatral.

“Recordar é viver!”, diz o velho ditado – ou “o velho deitado”, como diria meu pai, referindo-se ao “Bruxo do Cosme Velho”, também seu mestre.

Limitei-me, portanto, a falar do poeta piauiense Da Costa e Silva, já que Alexei Bueno e Marcos Luchesi, amigos próximos de Alberto, Acadêmico da ABL, como eles, disseram tudo sobre o filho nas páginas do jornal O Globo, um dia após o seu falecimento.

Deixo aqui uma homenagem a esses garimpeiros (no bom sentido) abnegados e compromissados com o resgate da obra literária da lusofonia.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 05/12/2023
Código do texto: T7947889
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