MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS IDOSOS

Hoje sentir frio na cidade do Rio de Janeiro, é quase tão difícil quanto encontrar algum cachorro vira-lata perambulando por bairros da Zona Sul carioca.

Lembro que nas décadas de 50 e 60, na transição do final do outono para a chegada do inverno, não dava para sair cedo de casa sem um agasalho, mesmo que depois das dez da manhã o calor chegasse. Isso também valia para o final da tarde, bastava o sol se esconder, para que a friagem tomasse conta do ambiente, pois naquele tempo, a rua era extensão natural das casas, principalmente entre o segmento jovem.

Muitas décadas se passaram, e hoje soa quase como piada, principalmente para adolescentes, se referir a temperaturas baixas nessa acalorada cidade. Imagino, que para quem já ingressou na fase idosa, fique fácil entender esse papo de aquecimento global, pois sentiram diretamente na pele essa alteração do clima, pelo menos no território local.

Os fenômenos El Niño e La Niña já deveriam ter suas nomenclaturas atualizadas, pois ficaram mais conhecidos no início da década de 80, hoje mais vigorosos e populares do alto dos seus quarenta anos, conseguem não apenas alterar de forma significativa o clima do outro lado da cordilheira andina, mais também mexer com a distribuição de chuvas desse lado do continente chamado Brasil, deixando à míngua a úmida Amazônia, enquanto bota debaixo d água boa parte do sul o país.

Como se não bastassem às mudanças climáticas, o mundo também passa por forte transição demográfica. As consequências climáticas com a subida de dois graus centígrados na temperatura global ganharam relevância, e hoje qualquer pessoa já tomou conhecimento que daqui para frente, passaremos a conviver com extremos frequentes, ou seja, grandes amplitudes de temperatura, acompanhadas de chuvas torrenciais e secas prolongadas.

Resumidamente posso afirmar que a população mundial envelhece, e este fenômeno no Brasil vem sendo impactante, pois o fosso social foi também perpetuado nesse segmento específico, ou seja, envelhecemos rapidamente num país rico para poucos, e subdesenvolvido para a grande massa de pessoas, que conseguiram sim, mas aos trancos e barrancos superar a barreira dos sessenta anos.

Com a pandemia da COVID, o idoso foi o segmento com maior contingente de vítimas fatais, pois suas comorbidades se transformaram no calcanhar de Aquiles para a oportunista entrada do vírus.

Bom agora quando se sobrepõe clima e demografia vamos novamente atingir dois segmentos diretamente, os mais jovens e os mais velhos, pois temperaturas superiores a quarenta graus por mais de quatro dias seguidos vão dizimar sem trégua principalmente essas pessoas que pela primeira vez na história do Homo Sapiens conseguiram maciçamente dobrar sua expectativa de vida, além de abreviar a incipiente vida dos bebês.

Só para recordar, um ícone na história das religiões, Jesus morreu velho aos trinta e três anos, num momento que a esperança média de vida era trinta anos.

É claro, que algumas pessoas naquela época viviam até quarenta ou cinquenta anos, mas devido a tragédia que recebia o nome de mortalidade infantil, não permitia que a população envelhecesse.

Bom, essa realidade, pelo menos em termos nacionais valeu até a década de 30. O Século XX pode ser considerado como um fenômeno, que nunca mais se repetirá na história do Homem, pois nunca mais as mulheres terão tantos filhos, como faziam até a primeira metade do século passado e nunca mais a mortalidade infantil cairá com a velocidade impressa no Século XX.

Portanto, se nada for feito a nível terreno, todo esse ganho de tempo de vida descerá solenemente pelo ralo da história humana.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 05/12/2023
Código do texto: T7947445
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.