O palhaço

As luzinhas amarelinhas, a lona, o nariz, o sapato vermelhão, pipoca, paçoca, "fon fuen" pangaré e Puro sangue. O gato bebe leite, o rato come queijo, e eu, e nós, somos palhaços.

Circo. Como eu amo circo. Fazia tempo que não ria tanto vendo um filme, me empolgava tanto. Se bem que tem coisas que não são pra rir também, nem pra se empolgar. Falo do filme "O palhaço". É uma das coisas mais lindas, acho até que o meu filme favorito.

Lembro de ir no circo poucas pequenas vezesinhas na vida. Já devo ter escrito sobre isso, mas o circo é magia. Lembro de ver o globo da morte e ficar com medo por eles, que será que não ficam tontos na giração? Quer dizer, se chama globo-da-morte por algum motivo, né?

De ver os trapezistas subindo pra cima, descendo pra baixo, e pensar que o equilibramento lá em cima era da mais aguda coragem, de pairar no ar mirando a queda.

E claro, o palhaço.

O palhaço é o bicho-alegria. Imagine só que ideia: Vou fazer uma cara em cima da minha, colocar um narigão e querer ser de novo criança. Que maravilha.

"O palhaço" é um filme lindo, cheio de ternura. Não sei se quis na vida alguma vez ser palhaço, acho que a vida quis pra mim, mas já quis fazer rir e chorar e suspirar e aplaudir. Mas o palhaço, ele tem um dos mais nobres ofícios, o palhaço sonha para o outro. E tem até santo, O "são Filomeno", o que protege músicos, comediantes, palhaços, artistas e coisa e tal

Selton Mellon, (Pangaré), é meio tristinho, plácido, meio "fuen". E aí você vai acompanhando isso, e vai rindo, e vai tirando a maquiagem a roupa lá no camarim quando ninguém tá olhando, vai desvestindo o pangaré pra ver o que tem por detrás.

Uma vez, quando eu era bem menos de tamanho, acho que era um evento de dia das crianças. A gente se divertiu, comeu, achou graça nas brincações, e no fim, na hora de ir embora, eu o vi de humano. Vi um palhaço indo embora com roupa normal. Achei muito estranhíssimo, quase uma dobra no tempo. Tentei esquecer aquilo, já que, afinal, palhaço é palhaço.

Ah, eu quase ia esquecendo! O amor, o falso brilhante.

"O amor

É um mascarado:

A patada da fera

Na cara do domador.

O amor

Sempre foi o causador

Da queda da trapezista

Pelo motociclista

Do globo da morte.

O amor é de morte."

Como é de toda estória, tem também alguns falsos brilhantes no caminho. Tem amor, tem amargor, tem "Audo Auto peças" (haha) Quase coisa de Arlequim, Colombina e Pierrot.

Os cenários são bonitões, coloridões, exagerados, de não passar embaixo de Wes Anderson nenhum. Dá pra ver o amor pela coisa toda. E você, o público, nós, vamos sendo aquela do texto de Antônio Bivar, que também já devo ter falado. Vou por um trechinho aqui embaixo.

"O circo chegou a cidade era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas, eles se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo, e eu entrei no meio deles e falei que eu queria ser trapezista. Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, forte, era uma moçona mesmo. Ela me olhou, riu um pouco, disse que era muito difícil, mas que nada era impossível. Depois veio o palhaço Poli, veio o Topz, veio o Diverlangue que parecia um príncipe, o dono do circo, as crianças, o público. De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando.

Pois. Ora palhaço, ora plateia. Num toda hora misturar e não saber o que é o que, como falou Augusto Boal. Somos assim, eu acho, e é mesmo bonita a coisa de cavar um riso no rosto alheio.

E depois,

no fechar das cortinas,

dizer um "Adeus"

PURO-SANGUE

Ô sua capivara, não se diz "Adeus" para o público! Diz-se "Até já, "até breve" , "até logo".

PANGARÉ

Até já, "até breve" , "até logo".