Família Doriana (anúncio de margarina)
Sempre paro pra pensar nos comerciais de margarina na TV, confesso que sempre são os que mais me chamam atenção, a mesa arrumada pro café o sol reluzente na cortina branca, a mãe, o pai, o cachorro, a criança, todos sorridentes enquanto deslizam a margarina no pão quentinho sempre finalizados com uma frase motivacional ou aluzindo ao creme de leite que deixa tudo mais saboroso.
E quando desligam a câmera? Será que o cachorro mija em baixo da mesa? Ou começa uma briga por quem vai lavar a louça, ou quem paga o que; E o filho que vai mal na escola, quase sempre culpado por não fazer bem "a única coisa que ele tem obrigação" enquanto os adultos não veem que os filhos nada mais são do que o reflexo da criação, e todo mais aquilo que as paredes do quarto ao lado deixa vazar no som abafado.
E quando a gente cresce, piora, se nos doamos muito a vida vai passando sem a gente nunca desprender do galho da árvore, vamos nos tornando frutos podres adoecendo junto ao pé, se nos afastamos somos ingratos, insensatos.
Cabe lembrar que não decidimos nada, não nos planejamos pra nascer nem escolhemos nosso nome nem nossos defeitos e limitações... E foram assim com eles também, que parecem se esquecer.
Amor é gostoso longe, de perto da trabalho, tem briga, tem ego, tem quem quer jogar num time e tem quem não enxerga que a bola já até furou, que o time já caiu e que o juiz já apitou.
Mas ainda é Sexta-feira, há uma certa esperança pois Domingo todos se reuniem pra brincar de família Doriana no almoço, até quando fingiremos?
No fundo somos nós e nós mesmo, solitários na presença dos demais...