O amor quando é cruel
Quando o amor é cruel, deixa sequelas até na alma. Isso acontece quando se entrega o coração de bandeja. Uma declaração, um gesto de carinho, um singelo verso de poesia, um ato singular, algo sublime e terno que possa encantar e seduzir. Esse amor é cruel demais! Um dia, ele leva para o céu e noutro envia direto para o inferno, como se não se importasse com seus sentimentos. Esse amor é semelhante ao diabo que tem formas diferentes de se manifestar na sua vida e se apresenta, principalmente, quando se está fragilizado.
O demônio se apresenta como a beleza mais encantadora, seduz, conquista, depois que conquistou, se transforma na mais aterrorizante criatura. Assombra, deixa marcas profundas na alma, se diverte com a dor e sofrimento. A crueldade é um sentimento de prazer para o diabo que sorri com o seu fracasso. Para o poeta, esse feitiço se desfaz com a magia da poesia, que consegue transformar todo mal, o desencanto num sonho de amor.
Quando está em dúvida sobre o que sente, a ausência do amor é como a um espelho da alma onde se olha, reflete e não se encontra resposta, nada que possa elevar, mostrar a realidade do mais profundo sentimento, acompanhado de saudade e ternura. A valorização da presença da amada, do olhar que não se cansa de brilhar se resume na alegria e nos indícios da presença desse amor, que alimenta em todos os dias.
Talvez o amor não seja tão suficientemente cruel e, talvez ultrapasse as fronteiras da dor, da infelicidade e da solidão. Cruel somos nós conosco mesmos quando não aceitamos a manifestação desse sentimento e nos martirizamos com medos, frieza, dúvidas, incertezas e ausências...
O amor é inocente, é doce, puro, singelo, verdadeiro, supera toda crueldade. Esse amor cura as feridas, cicatriza, mas não apaga as marcas e lembranças, que ficam em seu subconsciente, pelo caminho que leva à paixão. O amor tudo suporta, compreende, aceita, cede, mas tem momentos, que não consegue se libertar do diabo que lhe carrega sobre os ombros, como se tivesse possuído por uma criatura invencível.
Quando amamos e não compartilhamos dessa felicidade, seria como aceitar a maldade do diabo em nós, porque aceitamos, compreendemos e ainda sofremos em silêncio. O sofrimento e dor também são de Deus, quem, um dia, sacrificou seu amor por nós. O amor não pode ser coisa do diabo, mas, sim, de um Deus que vive constantemente lutando para resgatar seus filhos desse lamaçal de ilusões.
O sofrimento, sim, é do diabo. Essa figura pernóstica, se diverte com a dor das pessoas e fica de prontidão, ardil e tenebroso, esperando o momento de dar o golpe final. O amor, somente o amor, esse sentimento que vai além de tudo isso, que ultrapassa todos esses estágios da vida, tem o poder de cessar e espantar o diabo que persegue.
Quando aprendemos que devemos amar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, não permitimos que o diabo tenha espaço para ocupar dentro de nós. É muito fácil associar o amor na alegria e nos prazeres do mundo do que amar na dor, na doença, na tristeza, na ausência, na ingratidão, na traição, na falha e no pecado. Só quem está num grau elevado e em estado pleno de graça, como a um poeta, sente esse amor real e verdadeiro e consegue amar, mesmo que não seja amado, se entrega em êxtase, em alto grau de amor. O amor poético é um amor incondicional.
De repente do nada, me acho lhe amando. Nada poderá atrapalhar esse momento mágico, nem as fortes tempestades que envergam os galhos, mas não os arranca, tampouco as suas raízes, fincadas no solo, firmes e nada poderá lhe tirar de mim.
O amor não pode se acabar assim, tão cruel, vingador, imperdoável, com rancor e ódio. Mesmo que amor e ódio caminhem lado a lado, não são iguais e não possuem o mesmo sentido. Se acabou é porque não houve sentimento, sinceridade, cumplicidade e a tão propalada química. Mas o sentimento puro e genuíno do verdadeiro amor, jamais se acabará, porque vem da alma, da essência do Ser.
Quando sentimos e vivenciamos o amor, independente de quanto sofrer, sempre o amor terá suas qualidades, suas manias e suas delicias. Porém, quando misturamos os dois sentimentos (amor e ódio), aceitamos também conviver com a raiva, a intolerância, a impaciência, falta do perdão, a incompreensão, a vingança, o egoísmo e tudo mais que levar a crer que o amor é cruel.
Assim sendo, somos cruéis conosco mesmos, nos julgando em todo momento e nos furtando da felicidade tão sonhada em suas primícias. Quando olhamos amor com sentimento de gratidão, enxergamos além da escuridão, pois o amor de verdade, é repleto de luz e clareia a nossa mente.
Na escuridão, alma vive na penúria, mergulhada nas trevas e no pecado que nos apequena e nos distancia de Deus, que é o único e imensurável amor. Temos dentro de nossos corações, chama de luz que se acende e se transforma em todas as vezes que o amor se aproxima. Essa chama mantém vivo o amor e não permite que a morte vença e destrua o que se formou da essência de um amor eterno, de outras vidas.
O amor não é como a paixão, que é movida por ilusão e passageira. O amor é uma raiz que nasce e cresce dentro do peito e permanece para toda a vida. É coisa de alma, é divino. Somos tentados a todo tempo pelo diabo e as forças do mal, devido as nossas fraquezas, imperfeiçoes e paixões mundanas. Mas, acima de tudo, existe um Deus que é a nossa fortaleza, a muralha contra o mal. Um Deus que perdoa e concede outras oportunidades de amar e novas experiências.
Quando buscamos satisfazer as nossas vontades e esquecemos do plano de Deus, abrimos as portas da nossa vida para as correntes do mal entrarem em nossas almas. Deus tem planos para sua vida e tudo será concebido dentro do seu tempo e da sua hora, de acordo com o seu merecimento. Basta acreditar e saber esperar. Cada um de nós tem a liberdade de escolha, o livre arbítrio, mas, carregamos em cada escolha, o peso da consequência, podendo ser boa ou ruim. Depois vem o medo que pode levar as pessoas à loucura.
De um lado, existe um diabo que ruge, ecoando gritos de lamentações nas profundezas da escuridão, formando exércitos de horror e, de outro, um Deus de luz, que protege, que ama e que chora toda vez que um filho se perde de seu rebanho. O poeta, em sua capacidade de se conectar com o Universo, interage constantemente com Deus, se desvencilha das mazelas carnais e ama com toda sua alma e seu poder, inspira e respira a poesia que traduz a dor e a saudade em sentimentos nobres, como a paz!