OS BONS TEMPOS ESTÃO DE VOLTA

Na infância e boa parte da adolescência me divertia, e como, de preferência deitado em algum lugar público, preferência para as areias da praia, função do conforto, que aliado a um amplo horizonte, permitia assistir o incansável deslocamento de brancas nuvens, lá no mata borrão do céu azul. Viajava com a diversidade dos objetos tridimensionais, que se transformavam em função dos ventos ou quando suas trajetórias entravam em rota de colisão com outra nuvem.

Na vida adulta, esse hábito especial perdeu espaço, eu mesmo me impressiono como anos de cátedra, seguido do período laboral se conformaram, como uma máquina de sugar tempo, interferindo diretamente em cultivados hábitos anteriores.

Com a chegada da aposentadoria, você retoma a autonomia de seu tempo, e pode então resgatar tudo aquilo que já te deu alegria e prazer por um bom espaço de tempo na juventude.

No rádio do carro toca uma música, que relata com todas as letras um jargão conhecido, “cariocas não gostam de dias nublados”, definitivamente não me enquadro nessa afirmativa, e ainda questiono. Alguém conhece algum outro fenômeno tão rico de possibilidades, como a chegada à cidade de mais uma frente fria que vem lá sul?

Vamos lá, antes mesmo dela efetivamente se instalar, expulsando de cara o calor daqueles dias insuportáveis, para em seguida ser brindado pela força da natureza, que nos oferece um espetáculo inigualável, que começa com o rufar dos ventos, levantando muita poeira, envergando árvores, independente do porte e ainda espalhando folhas de formas e tamanhos variados em todas as direções.

Como o espetáculo precisa continuar, entra em cena um momento especial de apresentação de luzes, com ênfase no período noturno. A imagem então incorpora contornos especiais, num primeiro momento, apenas com dispersos reflexos distantes, que trazem luzes esporádicas ao breu noturno.

Num segundo momento, além dos relâmpagos, somos brindados com o aterrador som da colisão de nuvens carregadas, apelidado de trovão, que agora próximo concatena luz e barulho. Finalmente, a tão aguardada chuva se aproxima, e brilha transformando em prata suas dispersas gotículas que caem, formando uma cortina de chuva.

Por fim, o olfato é o último sentido a ser aguçado, com aquele peculiar odor, que todo mundo conhece como cheirinho de chuva, que enfim toma conta de nossas narinas.

Pronto, temos agora juntos todos elementos da entrada de uma frente fria, cabe então a cada um escolher a forma de preencher o tempo, agora restrito aos ambientes internos. Vale inclusive a retomada da leitura daquele livro, que o calor dos dias anteriores impedia a concentração necessária para evoluir na trama.

Enfim, posso afirmar sem titubear, que os bons tempos estão de volta, este é o momento de resgatar o prazer das coisas simples, sem enfrentar as amarras, que o período laboral impôs nas últimas décadas.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 29/11/2023
Código do texto: T7942982
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