ONDE SE DEU O ERRO?

Pergunte a qualquer morador da Cidade Maravilhosa, preferencialmente aqueles com mais tempo de estada por aqui, quando foi efetivamente dado o primeiro passo para esse mergulho no escuro, que vem se prolongando por décadas a fio, e não dá a menor pista de reversão desta nefasta tendência.

Muita gente com quem conversei define com todas as letras, pois antes mesmo de uma caravela vislumbrar indícios de terra, por quem ficou tanto tempo se sentindo numa ilha móvel, cercada por um oceano de águas salgadas, muitas vezes sem observar vida fora dessa frágil embarcação por muito tempo. Então, do alto de algum mastro, alguém traz a notícia mais aguardada por todos: “terra à vista”.

Caravelas que cruzaram o oceano já passaram por muito sufoco natural, mas o pior, sem sombra de dúvidas, foi fruto do desvio de parte dos mantimentos e até do suprimento de água para viagem, que resultou em severas dietas de líquidos e sólidos, por conta de algum ganancioso empresário.

Dando um salto na história do enriquecimento ilícito, vamos cair num momento crucial para a cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente naquele período do regime de exceção, quando a cúpula militar, descobriu que: “quanto maior a obra, maior também a facilidade para desvios”.

Não sei se o caro leitor recorda, mais coincidentemente nesse período, que a dívida externa brasileira, passou a crescer na velocidade dos canteiros de obras abertos Brasil a fora. O aprendizado da construção de Brasília serviu como referência para o que veio a seguir.

O Estado da Guanabara que destoava do compasso brasileiro passou a ser considerado aquela pedrinha dentro do sapato, insignificante, mas que incomoda muito, principalmente se você precisa andar, pior ainda, se o objetivo for correr. Logo, precisava ser eliminada, mas sem muito alarde, pois a cidade sempre foi tida como “o tambor do Brasil”, tudo que aqui acontecia ecoava pelo país.

Alguma mente mais perversa lembrou que as franjas da cidade tocavam em um território dos mais arcaicos da nação. E o pensamento foi o seguinte: vamos socializar sua riqueza, e assim nasceu o novo estado, e para selar esta união, uma obra emblemática consolidou esse casamento arranjado, com objetivo muito bem arquitetado.

E assim foi dado o ponta pé inicial da derrocada da Cidade Maravilhosa, que chegou a declarar falência no governo do então prefeito Saturnino Braga. Parabéns aos idealizadores do projeto, as intenções se materializar em realidade quase que num estalar de dedos.

Agora, na esfera estadual, nem o mais otimista dos idealizadores do projeto, poderia imaginar o esplendoroso sucesso da empreitada, hoje o Estado do Rio de Janeiro é recordista de falências e renegociações de sua dívida interna, liderando com folga o campeonato nacional de estados quebrados.

Nunca na história deste país, um estado conseguiu a façanha aqui atingida, todos os Governos após a gestão de Leonel Brizola, tiveram seu momento de estágio prisional, o recordista tanto no quesito valores desviados, como também em permanência no aprazível bairro do Gericinó, e que dificilmente terá suas marcas superadas, embora já se encontre em liberdade, Sérgio Cabral, que realmente mudou de patamar a arte de governar as verbas de um estado.

E a tradição de sair de Laranjeiras (residência oficial do governador) em translado direto para o Gericinó (presídio da cidade) parece que contará com mais uma nova figurinha nesse álbum de delinquentes do colarinho branco, que até inovaram, passando a usar eventualmente guardanapo branco na cabeça nas comemorações internacionais do bem sucedido desvio da verba pública.

E assim caminha para o acaso o destino de uma cidade icônica, nesse mar de mais de cinco mil congêneres pelo Brasil.

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 29/11/2023
Código do texto: T7942981
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