O “BOLINHO”ABENÇOADO
Assim como a maioria dos seres humanos, eu gosto e preciso de dinheiro para comer bem, para viajar e para viver com dignidade. Mesmo aposentada como professora, até hoje eu luto muito, honestamente, para tê-lo. Ajo assim, porque quem tem sua origem nas senzalas ou nas florestas, quando recebe sólidos princípios e tem vergonha na cara, deles não se aparta por nada.
Em face dessa crença e das guerras que estão acontecendo nesse planeta e dos reais motivos que as desencadearam; creio que o mundo seria muito melhor, se ainda vivêssemos na época dos escambos. A primeira vez que você ouviu essa palavra, muito provavelmente, foi em uma aula de História, quando seu/sua professor (a) lhe contou sobre como os Portugueses “negociavam” com os primeiros habitantes do Brasil. Em outras palavras, como não existiam moedas, as “transações” eram feitas elas por elas, de comum acordo.
Pesquisas me informam que essa prática era comum nas Idades Antiga e Média, mas à medida que a escassez ou a abundância de determinados víveres ou animais passaram a acontecer; as trocas deixaram de ser 1 por 1 e passaram a ser 1 por 2 ou 3, fazendo nascer o que chamam de “Lei da oferta e da procura”, acho.
À medida que o tempo passou, os números de interessados em trocas aumentaram. Então, o homem decidiu que as transações seriam feitas tendo como parâmetro duas substâncias: o sal ou o cobre. Ocorre que dependendo do tamanho das transações, essas duas medidas de troca passaram a ser pesadas demais, dificultando os processos.
Creio que visando a uma melhor otimização dessas operações, por volta do ano 1.000 a.C. , apareceram, na China, as primeiras moedas, feitas de cobre, e em 610 a.C., na região onde hoje se localiza a Turquia, esse metal foi substituído por outros mais nobres: ouro ou prata. Como a questão de peso das moedas nas grandes transações comerciais ainda era um problema, em 618 d. C. foram criadas as primeiras cédulas, também na China (sempre ela!!), mas em 1661, o banco sueco Stockholms imprimiu as primeiras cédulas na Europa.
Pulemos a criação dos cheques de papel, os cartões de crédito, as transações feitas via Docs bancários e uma coisa maravilhosa tanto para pagar, quanto para receber: o PIX! Saltemos isso, porque toda essa introdução é para relatar um episódio acontecido comigo na noite de 23 de outubro de 2023. Eu estava exatamente pensando sobre como eu conseguiria dinheiro para pagar o plano de saúde de um irmão meu. Se ainda estivéssemos na era do “escambo”, eu iria propor trocar a dívida mensal pelo monte de livros que eu tenho.
Mas, voltemos ao pano de fundo dessa crônica. Por questões éticas, alterarei o nome da protagonista.
Repentinamente, encontrei a seguinte mensagem no meu WhatsApp:
Boa noite, Norma. É Suzy. Sabe, preciso pagar um dinheiro de umas fotos que você tirou de mim. Não sei quanto elas custariam hoje, mas vou lhe dar uma importância. Quero que aceite, pois Deus me tocou que eu deveria acertar com você e não aceito “não” como resposta. Onde poderei te entregar amanhã? Você ainda mora no BNH? Na mesma casa?
Como a mensagem não tinha o nome da remetente, apenas o número do seu celular; inicialmente, eu pensei que pudesse ser algum tipo novo de golpe, mas como já fotografei milhares de pessoas em minha vida e como ela me chamava pelo meu nome; resolvi alimentar a conversa.
Dois dias depois, na hora do almoço, a campainha da minha casa tocou e eu fui atender. Era uma mulher sobre uma moto tipo Biz. Abri o portão e cheguei até ela. A pessoa me disse o seguinte:
- “Eu sou a Suzy”. Fiz um esforço para tentar reconhecê-la, mas os óculos escuros e o capacete usados por ela, não me permitiram.
Ela estendeu sua mão direita, me entregou um “bolinho” de dinheiro e disse:
- “Receba isso que eu lhe devo há 27 anos. Foi meu Deus quem mandou eu lhe pagar!”.
Após eu receber a quantia, ela estendeu sua mão até o meu coração e disse:
- “Perdão! Que Deus a abençoe!”.
Fiquei emocionada, a abracei e só consegui dizer:
- “Muito obrigada, Suzy! Que Deus a abençoe muito também!”
Rapidamente, ela ligou seu veículo e partiu, sem que eu soubesse até mesmo qual era a sua real fisionomia e seu sobrenome... Abri o “bolinho” de dinheiro e fiquei boquiaberta: havia ali o suficiente para pagar cerca de 80 fotografias tamanho 10x15cm ao preço de hoje. Exatamente um pouquinho mais do que a prestação da MedSênior.
Talvez eu nunca saiba quem é a Suzy, nem se a quantidade de fotos tiradas há 27 anos seria essa, mas sou imensamente grata ao nosso Deus que tocou o seu coração e a fez vir até mim.
Fiquei pensando por que Ele não toca os corações de quem só pensa em TER a qualquer preço, por que não pune quem faz ou defende a guerra, aqueles que, muito covardemente, entre os seus iguais, são capazes de qualificar como “comunista” até mesmo o Papa Francisco, ou aqueles que se dizem seguidores de Jesus, mas são incapazes de praticar o que está escrito em Mateus 25:35-40.
Conclui que, talvez, Ele só se manifeste para ajudar quem é capaz de, verdadeiramente, enxergar em qualquer próximo um outro filho de Deus!