CAFEZINHO (BVIW)
E a tradição do cafezinho mineiro? É boa demais! Principalmente quando aquele aroma fresco se esparrama pela casa, embriagando os sentidos de quem proseia na sala. O café em casa de mineiro, se for no interior então, é quase um rito. É um momento que envolve também queijo fresco, pão de queijo, bolo de fubá com queijo e assunto moroso, sem pressa alguma pra acabar.
Reparo que, embora o café tenha sempre os mesmos ingredientes, cada pessoa tem seu modo de preparo. O café da minha mãe, por exemplo, é inimitável. É um tal passar aos pouquinhos, acrescentando mais um tiquinho de açúcar, mais um tantinho de pó… E a receita vai sendo despistada pelo caminho até o bule — sem contar que o bule tem que ser escaldado para não perder calor. Quem dá conta de acompanhar uma alquimia dessa? Ninguém. E ninguém mesmo, porque todas as vezes que algum dos seis filhos se arrisca no fogão, o resultado é lastimável. Há sempre um silêncio à mesa, uma "sem graceza", como se diz por aqui, abafando as manifestações do livre paladar: "Eita, mãe, mas o cafezinho hoje tá melhor que o de ontem, hein?" E está mesmo sempre melhor.
Dizer que minha mãe esconde o que sabe, seria mentir: se nosso café não sai digno de aplausos, nunca foi por falta de ela querer ensinar suas táticas quase centenárias. É mesmo porque ninguém consegue pegar o fio da meada. Entre xicrinhas de café saindo fumaça, pão de queijo quentinho e crocante, e um assunto pra lá de bom, a gente sempre conclui: nosso aprendizado com nossa mãe, mestra de insondáveis segredos e químicas, nos meandros da cafeína, será sempre fake.
Tema da Semana: Aprendizado Fake (crônica)