Ásperos Tempos
TOMEI emprestado o título de livro de Jorge Amado para designar uma época muito difícil para a mulher, nada referente à ideologia, mas á violéncia física e moral praticada contra as mulheres, notadamente as mais humildes. Era diferente de hoje quando uma celebridade sofre um questionamento ou briga com o marido e logo são tomadas providências e a audiência dele cresce vertiginosamente.
Bom vamos ao meu caso com esse tipo de problema. Aconteceu há mais de 40 anos. Eu era cronista da rádio local e comandava um programa de debates nessa rádio aos sábados, idealista e meio radical um dos meus focos era descer a lenha nos espantadores de mulheres e apelar para a justiça para tomar as medidas necessárias.
Na época eu me dava muito bem com o juíz da cidade, um cara ameno é muito justo, mas meio gozador. Quase todo dia num bar que além da cerveja estupidamente gelada servia umas costeletas de porco com farofa de cuscuz com ovos, eu me encontrava com o juíz e a gente batia um papinho. Ele ouvia minhas crônicas e um certo dia assim que sentei e comecei a tomar uns goles de cerveja, o juíz me disse: - Cabra véio, esquerdista festivo, hoje tive vontade de mandar chamar vicê no banco pra me ajudar a decidir uma parada. É que mandei prender o marido de uma mulher que é espancada diariamente pelo marido. Pois bem, ela veio me pedir por tudo no mundo para soltar o marido porque está passando fome com os filhos. O espancador trabalha alugado levando feiras, carregando caminhões e fazendo toda sorte de serviços pesados. É com esse dinheiro que sustenta a família e bebe. Ela acha que melhor apanhar e comer do que passar fome. Que faria você?
Engasguei com a costeleta e a cerveja esquentou. O caso correu na cidade e as pessoas riram de mim. Naquela época espancamento de mulher pobre era coisa banal. Não tinha lei Naria da Penha. Hoje melhorou mas ainda há esse problema, principalmente no interior, melhorou com os programas siciais, mais que com qualquer outra coisa. Conto o caso apenas para lembrar. William Porto. Inté.