Farol
Desde o momento que ouvi sua voz a primeira vez percebi que havia algo diferente ali, em pouquíssimo tempo uma ligação inexplicável surgiu e dali nunca mais saiu.
Mas por imaturidade de ambas as partes, insegurança, desejo de liberdade, medo do desconhecido, o desencontro se fez inevitável, assim como os pensamentos, lembranças, desejos.
Vez ou outra um oi, que na verdade era mais um “ainda estou aqui e você não sai da minha cabeça”, duas letras com o peso de uma confissão, com desencadear de um encontro furtivo e uma ânsia de sentir, o gosto, o cheiro, a pele, o desejo, a simples vontade de saber que “ainda estava ali. ”
Com o passar dos anos os desencontros foram maiores que os encontros, mas a mesma intensidade, não, maior, mais forte, a descoberta de uma nova forma de amar, o entendimento de pertencimento mútuo.
Mas, mais uma vez e outra vez a imaturidade de ambas as partes, insegurança, desejo de liberdade e comodismo, sobrevieram, mais uma vez e outra vez o desencontro se fez presente.
Ali, mesmo depois de tudo e apesar deste, eu não tinha mais para onde correr, sabia que meu coração e minha alma pertenciam a você.
Sabia que não era o momento, já te conhecia mais que a mim e a certeza de que você precisava de mais do que eu poderia oferecer, me fizeram tentar te esquecer.
Descobri que o que me ligava a você não era apenas termos as mesmas loucuras, os mesmos desejos, isso encontrei em outras pessoas, descobri mais, nenhuma delas teve o poder de me tirar de você, bem que eu quis, bem que tentei.
Buscamos sempre um porto seguro, algo ou alguém que nos dê a segurança que não encontramos em nós, o que demoramos a entender que não há porto seguro, seguro de fato, além de nós mesmos, além de nossa própria consciência, a compreensão de nosso mundo interior, de nossos defeitos, nossas limitações, assim como nossa força, nossa capacidade de renascimento, nossa vontade de viver.
Eu nunca quis ser seu porto seguro, mesmo sabendo que era o que buscava nas pessoas com quem se relacionava, não te queria presa a mim por alguma razão, nossa ligação não tem explicação e é assim que deve continuar, o que se pode explicar se pode racionalizar e perceber que não é o que se quer.
Não busco mais tentar entender o que nos liga pois percebi exatamente isso, se eu conseguir posso me perder de você, busco sim entender mais e mais quem eu sou e quem você é para encontrar meios, formas, de te trazer para mais perto do meu coração, vencer os medos, as inseguranças, as mágoas e encontrar um caminho para nunca mais ser preciso dizer adeus.
Eu não quero ser seu porto seguro, pois essa posição só cabe a si ser, mas me comprometo a ser seu farol, aquela luz que pode te guiar quando sua mente estiver no escuro, que te mostra o caminho para encontrar seu porto seguro, se encontrar no meio do caos de um mar em fúria, para que você saiba que o porto é bem ali, mais próximo que se pensava, para onde você olha quando precisar saber onde está, sem medo de se perder, com a certeza de que é o caminho certo a seguir.
Aquele que, em seu porto seguro, se pode sentar ao lado e simplesmente ver a vista sem dizer uma só palavra, aquele cuja presença se faz presente mesmo ausente, que a cada nascer e pôr do sol se pode saber estar ali sem intenção nenhuma de se sobressair.
Conseguir encontrar nosso porto seguro sempre será nossa razão de viver, de navegar pela dádiva que nos foi dada ao nascer, nada será capaz de ser maior que isso, mas essa busca nunca é, ou será, fácil, como dizem mar calmo nunca fez bom marinheiro, o que nos importa é saber que temos companhia e alguém para quem olhar e ter a certeza de que está em casa.
Espero o dia que eu consiga ocupar este lugar, espero o dia em que eu possa ver o mesmo em você e que juntas, não importa como, possamos encontrar nosso lugar nesse imenso mar que é a vida, com a certeza de que quando as ondas nos castigarem e nossa mente se vir turva, sejamos a luz que nos guia a um lugar seguro dentro de nós mesmas.
Espero o dia em que eu possa ver seu aporte e falar: seja bem-vinda, nunca deixei de acreditar em você, nunca deixei de saber que viria.