PONTO DE INFLEXÃO PARA UMA CATÁSTROFE ANUNCIADA

Os recém publicados resultados do último Censo Demográfico veem mais uma vez confirmar uma verdade dolorosa, até hoje ignorada por todas as instâncias de governo, o rápido e preocupante envelhecimento da população.

O que deveria ser uma alvissareira notícia tem afetado diretamente lares brasileiros como nenhuma outra interferência externa, excluída aí apenas a parcela mais rica da população. Esta dispõe de meios, para arcar com o custo demandado por um idoso, que necessite de constante acompanhamento médico.

Num país que foi sempre caracterizado pelo abismo social, imagine o estado de saúde da maior parte da população, que vivenciou uma vida de dificuldades, a começar pela precária, educação, se estendeu para o precário emprego, precária moradia, precária alimentação, em síntese uma vida pautada por ausências.

Agora, imagine esse contingente, que apesar de todas as intempéries, conseguiu sobreviver e agora passou a pertencer ao segmento que mais cresce seu contingente na população.

Com a conclusão da educação básica, no restante da vida, dificilmente uma pessoa terá a sua volta pessoas com idade exatamente igual a sua. Essa afirmativa apresentou uma exceção, especialmente para o público idoso, durante a primeira vacinação contra a COVID, quando se formaram longas filas, aonde todos integrantes apresentavam como principal característica ter vindo ao mundo no mesmo ano.

O local de vacinação indicado para quem residia em Laranjeiras, Cosme Velho, Flamengo e Catete era o Palácio do Catete, no bairro homônimo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Ao chegar ao local, além da fila grande, outra variável climática me apavorou, o tempo nublado, acompanhado do vento sudoeste, ou seja, cem por cento de chance de chuva, a dúvida ficava por conta do momento que o céu desabaria. Quase desisti, mas resolvi marcar meu lugar na fila, e posteriormente verificar o que acontecia na sala de vacinação, para tornar tão lento o processo de imunização das pessoas.

No caminho até o início da fila, passei reparando cada senhor ou senhora ali postados, a espera da salvadora picada da agulha. Caramba era muita gente com a saúde debilitada, e lembro ao leitor, este grupo era todo formado por moradores da Zona Sul carioca, ou seja, provavelmente componentes da classe média, em outras palavras, precariedade não deve ter sido seu “modus vivendi” ao longo da vida.

Por incrível que possa parecer, consegui interferir na velocidade de atendimento, e para alegria geral, São Pedro postergou a chuva para mais tarde.

Bom, este exemplo teve intuito de mostrar, que se nenhuma atitude for posta em prática, teremos uma futura tragédia nacional, pois não existe a mínima infraestrutura para atendimento a esse, cada vez mais numeroso segmento da população.

As poucas instituições públicas estão a muito saturadas, vivenciando situação similar aquela encontrada em presídios. O atual contingente de cuidadoras, além de diminuto, em sua maioria não passou por curso de formação. O contingente de geriatras e gerontólogos são inexpressivos, e as enfermeiras habilitadas para o trato com esse segmento não tem relação com a realidade.

Os indicadores de qualidade laboral evidenciam queda sem precedentes de emprego no mercado formal, acompanhado da expansão desordenada do mercado informal, que pode ser facilmente constatada nas calçadas dos centros funcionais da cidade, e também no crescimento exponencial da frota de motocicletas de entregas a domicílio de praticamente tudo que se deseje consumir, ou seja, do fast food ao documento de uma transação empresarial.

Do motorista do Uber, passando pelo ciclista que pedala uma bicicleta de aluguel para entregar uma refeição no salão de beleza da esquina, ao grande número de carros estacionados em vias da cidade, com a tampa da mala aberta, expondo uma estante de quentinhas, que atenderá aos trabalhadores de menor salário.

E nem vou citar a mão de obra ocupada pelo tráfico, a milícia, além da crescente população de rua. Agora, pare e pense: como essa população chegará à fase idosa da vida? O que pode ainda ser feito visando minimizar os efeitos deletérios dessa bomba relógio?

Alcides José de Carvalho Carneiro
Enviado por Alcides José de Carvalho Carneiro em 28/11/2023
Código do texto: T7942117
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